Discussões sobre racismo, políticas públicas, ações afirmativas marcam segundo dia do Encontro de Culturas Negras
Evento termina neste sábado, 2 de dezembro, no Câmpus Uruaçu do IFG
O segundo dia do Encontro de Culturas Negras do Instituto Federal de Goiás foi marcado por importantes discussões e debates a respeito do racismo, da necessidade de políticas públicas e da reafirmação da importância das ações afirmativas, entre outros assuntos. Além das mesas que trataram esses temas, ao longo do dia foram realizadas diversas oficinas e atividades artístico-culturais. O evento que começou na quinta-feira, 30, no Câmpus Uruaçu, nesta edição celebra o tema “Africanidades, Antirracismo e Políticas” e conta com uma programação diversificada, que inclui palestras, debates, rodas de conversas, relatos de experiências, oficinas e atividades artísticas e culturais.
Na manhã desta sexta-feira,1º de dezembro, foram realizadas as mesas “Reparação Histórica e Racismo Institucional” e “População negra e políticas públicas”. Noêmia Lima, que é assessora em Equidade, Diversidade e Inclusão da Secretaria de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde, durante sua participação na mesa temática, falou sobre a importância de pensar na integralidade da saúde e no princípio da equidade no que diz respeito à população negra.
Discorrendo a respeito do número de casos de doenças determinadas socialmente, Noêmia, que participou do evento de forma remota, afirmou: “Vemos que a população negra lidera nos casos das doenças determinadas socialmente. A população negra é a que mais morre em decorrência de mortes evitáveis”. Como destacou Noêmia, além desse problema, “os jovens negros são os que mais morrem em decorrência da violência do Estado”. A assessora chamou atenção para o enfrentamento ao problema: “Pela primeira vez, é prioridade do Governo Federal a saúde da população negra. Contudo, ainda é necessário enfrentar o racismo estrutural e institucional. Onde há racismo não é possível haver saúde”.
Mateus de França Matias, secretário municipal de Cultura, Esporte e Turismo de São João do Piauí e egresso do Instituto Federal do Piauí, participante da mesa temática sobre políticas públicas, destacou a importância de ocupar espaços para fazer o enfrentamento ao racismo. “É preciso ocupar espaços de discussão e de criação das políticas públicas relacionadas ao povo negro.. Não dá para ter conselhos, comissões que decidem por nós e a respeito de nós, sem que participemos: é preciso participar e ocupar esses espaços. Precisamos romper os ciclos do colonialismo e do capitalismo. [...] A gente precisa reinventar, reconfigurar esses espaços, por meio do nosso protagonismo e do empoderamento”.
Durante a mesa sobre “Ações Afirmativas”, mediada pela presidente da CPPIR do IFG, Maricélia Nunes, uma atividade que integrou o Encontro das Comissões Permanentes de Políticas de Promoção da Igualdade Étnico-Racial (CPPIR), os participantes falaram sobre a importância dessas ações e da Lei 10639/2003. Como destacou a professora da Universidade Federal de Goiás, Mariza Fernandes, “a nova Lei de Cotas é sinal de que estamos colhendo os frutos desde os anos 2000. A reformulação da lei é muito importante. É sinal de que foram vistas lacunas e de que propomos melhorias. A nova lei é resultado deste movimento”.
Leonilson Kanela, professor da Universidade Federal do Tocantins e ex-técnico administrativo da Reitoria do IFG, chamou atenção para o momento de reconhecimento de direitos, mas fez um alerta: “Estamos vivendo um momento de reconhecimento de direitos. Contudo há muitos estudantes que não sabem como funcionam as cotas”. O docente também destacou: “é preciso pensar institucionalmente a respeito da inclusão e da permanência dos estudantes. Temos avançado no que tange à inclusão, mas precisamos avançar na permanência e recepção dos estudantes”.
Alex Lima, gerente do Centro de Seleção do IFG, também participou da mesa temática e falou um pouco sobre a implantação das cotas no IFG e ressaltou a importância da permanência dos estudantes: “é preciso fazer com que eles entrem, mas que tenham condições de permanecer”.
Além dessas mesas, outras ainda foram realizadas durante o período vespertino. Em uma delas foi discutido o tema “20 anos da Lei de Cotas” e, em outra, o tema proposto foi “A liberdade religiosa e o Estado Laico: Povos de Terreiro e Religiões de Matriz Africana”. No mesmo período, foi realizada a roda de conversa “Economia Solidária, Criativa e de Cultura” e também uma reunião dos integrantes dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi).
Oficinas e apresentações artísticas
Ao longo do segundo dia do Encontro de Culturas Negras, foram realizadas também várias oficinas. Entre elas estavam as oficinas de “Cultura de Estética Negra: Ojá Amarração de Turbantes”; “Afoxé: Ritmos Afro-brasileiros”; “Dança Afro”; “Saberes ancestrais na construção civil”; “Canto em Yorubá”; “Literatura Negra”; “Capoeira”; “Rimas (Batalha de MC's)”.
Durante o dia também, o Encontro de Culturas Negras foi palco para a aluna do Câmpus Cidade de Goiás, Helena Caetana, que cantou músicas de sua própria autoria para o público do evento. Logo após foi a vez de Lucas Marinho, da Comunidade Quilombola do Povoado Moinho, mostrar o rap que, segundo ele, “é feito na Chapada dos Veadeiros”. No período vespertino também foi realizada uma batalha de MCs.
À noite foi realizada a peça teatral intitulada “Contos de cativeiro”. A apresentação é um trabalho cênico encenado e roteirizado pelo artista Marcelo Marques e dirigido por Renata Caetano, com direção de coreografia de Juliana Jardel e cenário e figurino de Raquel Rocha. A montagem do grupo Orum Aiyê Quilombo Cultural trouxe ao Encontro uma mistura de linguagens corporais, do circo com a dança afro e a capoeira, além de outros elementos da cultura negra brasileira que encantou todos os presentes.
Finalizando o segundo dia, foi realizado também um desfile com o grupo Coletiva Preta e um show com a banda Mundhumano, que trouxe ao palco do Encontro influências rítmicas afroamericalatinas e, como diz a banda, muita música preta brasileira (MPB).
Último dia do Encontro
Neste sábado, último dia do evento, será realizado o 9º Seminário de Educação para as Relações Étnico-raciais. Os debates acontecerão serão divididos em seis eixos: 1 - Educação e literatura nas perspectivas decoloniais, 2- Encruzilhadas atlânticas: artes e culturas populares amefricanas e diversidades no contexto brasileiro; 3 - Educação para as relações étnico-raciais, políticas públicas, letramento racial, formação e experiências de docentes de diferentes áreas do conhecimento; 4 - Identidades, corpo e estética: intersecções de raça- etnia, gênero, gerações, sexualidade, classe social, entre outros; 5 - Perspectivas e experiências com o recorte étnico-racial nas áreas de Ciências Biológicas, Exatas, da Saúde e Agrárias e, 6 - Discussões interdisciplinares: trabalhos, relatos e experiências com a temática étnico-racial de todas as áreas do conhecimento.
À tarde, será realizado o Encontro Quilombola do IFG. Na atividade, serão realizadas rodas de conversas com grupos de trabalho sobre vários temas: Turismo de base comunitária no território quilombola; Alimentos tradicionais do cerrado e soberania alimentar; Desafios das mudanças climáticas nos quilombos: água, meio ambiente e justiça; e Preservação da história, cultura, saberes e fazeres ancestrais.
O encerramento do evento contará com a leitura da Carta de Uruaçu e o cortejo com a Escola de Samba Beija Flor, de Goiânia, que conduzirá a comunidade do Câmpus até a Praça da Bandeira, para o show de encerramento, com o grupo Afoxé Omo Ode e a banda Ilê Aiyê.
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Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.
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