Formação profissional que eleva cidadania e crítica é evidenciada em relatos de experiência da EJA na Rede Federal
Os relatos foram apresentados em mesas-redondas realizadas no decorrer de todo o segundo dia do Encontro Nacional que está sendo realizado em Goiânia
Os cursos integrados na modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA) ministrados na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica vão muito além da preparação para atividades operacionais. É o que mostraram muitos dos relatos de experiência apresentados em três mesas-redondas na tarde do segundo dia do I Encontro Nacional da EJA na Rede Federal, nesta terça-feira, 22. Cada mesa trouxe cinco experiências de diferentes regiões do País, abordando o tema Projeto Político Pedagógico (PPP), Currículo Integrado e Formação Docente.
Uma das ricas experiências que mostrou a consideração da realidade do estudante pela escola foi sobre o curso PROEJA-FIC Defensores e Defensoras Populares, oferecido no IFPR – Câmpus Paranaguá e relatado pelo professor Roberto Martins de Souza. O curso é novo. Foi criado em 2017, em função do alto índice de violência doméstica registrado na região, com seleção de ingresso que prioriza pessoas que já foram vítimas de violência, o que faz com que 90% dos alunos sejam do sexo feminino. A verificação dessa condição do candidato não é conhecida na entrevista do processo seletivo, mas antes, a partir da convivência de servidores do câmpus com a população local, em encontros regulares.
“Nós percebemos que o público que mais necessita teria dificuldade de estudar à noite, por causa de maridos ciumentos”, explica o professor Roberto, ao falar dos desafios do curso e da decisão de realizá-lo no período vespertino. As alunas são domésticas, babás ou salgadeiras, que administram seu tempo para conseguir estudar. Roberto conta que as alunas aos poucos começam a construir uma identidade própria e coletivizam-se como mulheres de luta. “Elas começam a multiplicar sua experiência nos bairros onde moram”, afirma.
No curso de Defensores e Defensoras Populares, os estudantes elevam sua escolaridade e também aprendem a dar as primeiras orientações a pessoas que necessitam do poder público para acesso a seus direitos e a cidadania. O professor citou caso de carta escrita por alunas do curso e encaminhada ao Ministério Público, que abriu processo contra a Prefeitura e que resolveu problema de esgoto a céu aberto em um bairro da cidade.
Consciência e autonomia
Outra característica que se revela entre os estudantes da Rede Federal é a conscientização sobre o valor de uma postura ativa na sociedade. Paralelamente às discussões das mesas-redondas, um grupo de estudantes dos institutos federais de Goiás, Amazonas, Rio Grande do Sul e Pernambuco discutiam as principais dificuldades e desafios enfrentados pelos estudantes nos câmpus em que estudam. O grupo pretende apresentar um documento aos organizadores do Encontro Nacional da EJA, para ser considerado na proposta final do Encontro, a ser tirada nesta quarta-feira, 23.
A atitude endossa relato de experiência feito pela professora Ana Cristina Limeira, do IFAL. Ana Cristina não tratou da organização dos estudantes presentes no encontro, mas fez um relato sobre a formação crítica e identitária do curso Técnico em Artesanato, oferecido no Câmpus Maceió. “Eles entenderam o lugar que eles têm dentro dos institutos”, falou a professora, mencionando o processo de 11 anos de implantação da EJA na Rede Federal e a transformação que é percebida nos alunos.
O I Encontro Nacional da Educação de Jovens e Adultos na Rede Federal está sendo realizado no Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG), de 21 a 23 de maio. O evento está reunindo cerca de 400 pessoas, entre professores, pesquisadores e estudantes de vários estados, para avaliar os 11 anos de implantação da Educação de Jovens e Adultos na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, por meio do decreto nº 5840, de 13 de julho de 2006.
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Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Aparecida.
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