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FLASH DA CIÊNCIA

Estudo do Câmpus Goiânia aponta diversidade de línguas faladas na capital além do português

Publicado: Segunda, 20 de Março de 2023, 14h04 | Última atualização em Segunda, 19 de Junho de 2023, 14h55

Entrevistados perceberam pelo menos 25 idiomas diferentes devido às várias culturas, povos e nacionalidades que estão em Goiânia

Mariany Aline Pereira dos Santos, Mateus Albino e a professora Ema Marta Dunk Cintra conduziram a pesquisa
Mariany Aline Pereira dos Santos, Mateus Albino e a professora Ema Marta Dunk Cintra conduziram a pesquisa

Quais são as línguas faladas aqui em Goiânia? Ao andar pela cidade, você percebe outros idiomas? Essas foram as indagações feitas por pesquisadores do curso de Letras – Língua Portuguesa do Câmpus Goiânia e, por meio delas, consta-se que, se sua resposta limitou-se ao português, você está enganado. A pesquisa intitulada Retratos da cidade de Goiânia: povos, línguas e paisagem linguística constatou que 84,6% dos entrevistados conseguem perceber outro idioma falado em Goiânia além do português. No total, os participantes do estudo afirmam que conseguem perceber outras 25 línguas na capital, dentre elas: espanhol, inglês, francês, crioulo, mandarim, Libras, japonês, línguas indígenas – carajá, kayapó, guarani – iorubá, suaíli, além do italiano, árabe, turco, angolano, etc.

 

Essa pesquisa também foi destaque no projeto Flash da Ciência. Confira:

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Dentre as línguas percebidas, a pesquisa mostra que o inglês foi um dos idiomas mais citados entre os entrevistados, subentendido como o mais utilitário em relação à aquisição de emprego e progressão na carreira. Contudo, mais de 50% das respostas evidenciaram a percepção da língua espanhola na cidade. De acordo com os pesquisadores, tal resultado pode ser atribuído à recente onda de imigração de pessoas vindas de países que fazem fronteira com o Brasil, especialmente da Venezuela.

Para o estudo, foram entrevistadas 143 pessoas, todas da comunidade acadêmica do câmpus. Dessas, 121 conseguiram perceber outras línguas em Goiânia, 13 afirmaram categoricamente que o português é o único idioma falado na cidade, enquanto nove pessoas não souberam responder. Para a professora e orientadora da pesquisa, Ema Marta Dunck Cintra, perceber a diversidade linguística vai além de enumerar idiomas, mas, principalmente, reconhecer as culturas que cada um deles carrega. “Reconhecemos que nós somos um país multilíngue e multicultural. A partir do momento em que nós não percebemos que há outras línguas, nós temos inclusive a dificuldade de perceber outras culturas e de valorizar as outras culturas. É um abrir os olhos para que as pessoas percebam essa questão multicultural, multilinguística do país”, explica.

De acordo com a docente, acreditar que em Goiânia, e no Brasil, é falado apenas o português é um mito – o mito do monolinguismo, instituído desde o período da colonização, em que os portugueses impuseram seu idioma sobre os nativos brasileiros e povos trazidos para a então colônia para serem escravizados. Além das línguas indígenas e africanas, que são encontradas desde os primórdios da história brasileira, atualmente percebe-se também o idioma de pessoas vindas, em sua maioria, como refugiadas, como é o caso dos venezuelanos e haitianos, especificamente aqui na capital. “Uma das línguas que eu percebi que eram faladas aqui em Goiânia eram as línguas crioulas por conta dos refugiados que vieram do Haiti e outros lugares. A gente percebeu muito isso dentro dos restaurantes, pontos de ônibus. Percebia também muito a língua espanhola e, algum deles (refugiados) falavam francês”, afirma Mariany Aline Pereira dos Santos, estudante da Licenciatura em Letras do Câmpus Goiânia e que, ao lado de Mateus Albino Costa, realizou a pesquisa orientada pela professora Ema Dunck Cintra.

Além das entrevistas, os estudantes também conseguiram levantar a presença dessas línguas pelas ruas de Goiânia por conta dos letreiros dos comércios na região dos setores Central, Aeroporto e Marista. Essas imagens, explica o aluno Mateus Albino, formam a paisagem linguística do local. “Qualquer texto que você lê, que é decodificável aos olhos, ele é uma paisagem linguística. E o foco do nosso projeto foi justamente as paisagens linguísticas que não estão em português para observar os movimentos migratórios aqui na cidade de Goiânia. Pela paisagem linguística, você consegue verificar vários fatores: marcas de oralidade na escrita, diversas línguas, identificar determinadas zonas”, acrescenta.

O estudante relata, por exemplo, que em alguns comércios cujos nomes remetem às línguas africanas, normalmente são de proprietários oriundos desse continente. “Um dos exemplos que a gente usa lá no relatório é o próprio nome Jabulani, que é uma palavra lá do idioma zulu, da África do Sul. Eu conversei com o dono da Jabulani e ele é de Guiné-Bissau. Ele já está lá mais ou menos uns sete anos. Tem a Jabulani, tem a Plese. São marcadores linguísticos que justificam esses movimentos migratórios”, comenta.

 


Algumas das paisagens linguísticas que demonstram a existência de outras línguas em Goiânia

 

Durante o levantamento dessas paisagens linguísticas, Mateus notou a presença maior desses idiomas na região central, enquanto, no setor Marista, houve a predominância de línguas europeias. “A discrepância foi a seguinte: nos setores mais populares, você tinha muitos nomes em português ou nomes próprios ou em idiomas como crioulo haitiano, espanhol. Já nos setores mais nobres, você via, além do inglês, muita presença de francês, italiano, que são idiomas considerados de maior prestígio aqui na região”, aponta o aluno.

Preconceito linguístico

Os pesquisadores puderam constatar também que, ao perceber diversidade linguística na cidade, é possível notar como há um certo preconceito em relação às línguas faladas principalmente por indígenas e pessoas de origem africana, o que configura, de acordo com o estudo, uma atitude linguística negativa. “A atitude linguística é a atitude positiva ou negativa em relação às línguas, ela tem muita relação com o que, de modo geral, a sociedade pensa e repassa. Se nós percebemos o tempo inteiro a questão do poder econômico, que agora nós temos que aprender o inglês e talvez o mandarim, então as atitudes linguísticas em relação a essas línguas são positivas, porque elas têm relação com a questão do comércio, de interagir com outro país que está ‘no poder’ em termos de recurso financeiro. Isso não significa que as pessoas não possam aprender essas línguas, mas nós temos que compreender que as outras línguas também são extremamente importantes, porque elas são a identidade de um povo. Língua não é só a interação, [...] não é só comunicação, ela é uma construção social, a identidade de um povo e nela estão todas construções culturais que o povo fez e passou”, argumenta Ema Marta.

Essa atitude negativa é vista por meio das respostas dadas ao questionamento, feito pela pesquisa, se os entrevistados teriam interesse em aprender outro idioma. “Foi muito interessante, no caso da análise de uns dois questionários específicos, que as pessoas responderam que elas não gostariam de aprender língua indígena e justificaram sobre o fato delas não terem contato com pessoas indígenas. Um pouco mais para frente nesse questionário, elas disseram que uma gostariam de aprender francês. Uma outra gostaria de aprender inglês, mas na parte que perguntava se elas tinham contato com pessoas que falavam essas línguas estrangeiras, elas também disseram que não. [...] A pessoa não tinha contato nem com indígenas e nem com franceses, mas gostaria de aprender francês e não gostaria de aprender a língua indígena. Então isso me fez refletir bastante. Essa não é uma justificativa plausível, porque você usou a mesma justificativa para as duas, mas teve um posicionamento frente a aprender uma e não aprender a outra”, comenta Mateus.

Para Maryane, que é indígena, até mesmo a concepção de achar que em Goiânia só se fala um idioma é uma forma de negligenciar as outras culturas que convivem por aqui, como é o caso dela e de sua família, que falam guarani. “Para mim, essa questão de ver uma língua única nunca existiu porque eu já trago isso de herança. Todos os indígenas, independente da sua cultura, da sua etnia, do seu modo de viver e de fazer seus rituais, somos parentes. Somos uma única só nação nesse sentido. Cada um vive de uma forma, mas a luta por demarcação de território, territorialidade é a mesma, mas as concepções de língua são diferentes. A gente sempre teve essa visão, diferente das pessoas na cidade que têm a mente mais fechada e acham que só falam português. Português, para a gente, não é uma língua materna. É uma língua adicional”, conta.

 

Visibilidade e acolhimento

A professora Ema Marta Dunck Cintra reforça a importância da pesquisa, principalmente no curso de Letras – Língua Portuguesa, justamente para a formação de futuros professores que vão atuar em salas de aula, com público diverso, como é o caso das instituições, como o IFG, que adotam políticas públicas para acesso de estudantes indígenas e quilombolas. “Todo o professor, todo docente, deve compreender a importância realmente de se valorizar todas as línguas, no respeito a todas as pessoas. Por isso, dentro do instituto federal é de extrema importância que essas questões sejam discutidas”.

Além da discussão, a docente reitera a importância das instituições em fomentar encontros e ações que possibilitem que os falantes de outras línguas possam interagir e, assim, falar sobre suas culturas. “Como instituição, nós precisamos acolher todas as pessoas que aqui querem estudar e, ao mesmo tempo, olhar para essas pessoas, olhar para as suas línguas, valorizá-las no sentido de rede de acolhimento mesmo, porque a gente fala nessa perspectiva de acolhimento. A língua também tem que ser de acolhimento”, finaliza.


Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia

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