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Cerca de 70 documentos históricos resgatam a trajetória do movimento estudantil no IFG

Publicado: Sexta, 12 de Março de 2021, 14h10 | Última atualização em Terça, 04 de Janeiro de 2022, 13h50

Edições do jornal Avante, editado pelo Grêmio nos anos de 1980, estão disponíveis para leitura

imagem sem descrição.

 

Para além de atos e defesas políticas de um movimento que se consolida, como a luta dos estudantes no atual Instituto Federal de Goiás, desde a época da saudosa Escola Técnica Federal de Goiás (ETFGO), o resgate de arquivos históricos relembra uma série de fatos, eventos, reivindicações, início de movimentos culturais, lutas políticas e em diversas áreas na história da Instituição e do movimento estudantil. A série de documentos remonta a época do fim da Ditadura Militar no Brasil, na década de 1980, foi reunida pelo ex-aluno da Instituição e professor Renato Gomes Vieira e repassada ao coordenador-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) do IFG, o estudante Gerson de Carvalho Moura Neto.

Evidentemente a luta centralizava-se na ideia de eleição direta do diretor. Aliás, até onde conheço, fomos a primeira Escola Técnica Federal do Brasil a fazer a eleição, afirma o professor Renato.

Segundo Gerson, o professor Renato foi aluno da Escola Técnica no início da década de 1980 e membro do Grêmio Estudantil. “O professor guardou consigo diversos documentos referentes às gestões do Grêmio Estudantil em sua época de estudante técnico, como edições de jornais da entidade, relatórios e cronogramas de eventos, extinção do Centro Cívico Estudantil (C.C.E) - instrumento da ditadura militar para extinguir as entidades estudantis e as lutas populares que estas traziam às escolas – por meio  do Conselho de Representantes de Turmas (CRT), documentos relacionados a hoje extinta União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), de Goiânia, relatório do 1º Encontro Nacional de Estudantes Secundaristas (ENES) realizado em 1979, o primeiro estatuto do Grêmio Estudantil da ETFGO, datado do ano de 1943, dentre outros documentos”, conta.

Grêmio Lítero Teatral da Escola Técnica de Goiânia foi fundado, à  época, com vários departamentos, entre eles o de Esporte e o de Comunicação, responsável pelo Jornal ETG. Também neste período, já existia o grupo de teatro, coral e banda (fanfarra), segundo entrevista com o professor Hélio Naves, realizada no dia 9 de julho de 2013. O Professor Hélio Naves foi um dos fundadores do Grêmio e a implantação do Grêmio consta da publicação nº 7.501, no dia 10 de novembro de 1956, do Diário Oficial do Estado de Goiás. Em 1º de maio de 1968 o Grêmio passou a denominar-se Grêmio Artístico e Esportivo da Escola Técnica Federal de Goiás (GAE).

Há neste acervo histórico, jornais produzidos pelos membros do Grêmio Estudantil, como várias edições do Jornal Avante, de 1982 e 1983. Os temas variam entre debates políticos nacionais sobre educação, reivindicações estudantis por melhorias na escola e por aumento de orçamento para o grêmio, agendas culturais, importância e eleições de representantes de turma, carta aos calouros, publicação de poemas e poesias dos estudantes (o Mural Literário), congressos da União Brasileira de Estudantes (UBES), lembretes das Olimpíadas Escolares, a Olintec. Esses e diversos assuntos compõem as edições do veículo de comunicação mencionado, que, na época, possuía uma tiragem de 2 mil exemplares.

Já na primeira edição do jornal, em agosto de 1982, os objetivos do veículo de comunicação foram descritos: “O Grêmio Estudantil da ETFGO pretende, com a edição do Jornal AVANTE, criar um espaço democrático para o fluxo de ideias e posicionamentos, sendo um elo de unidade dos alunos. Não podemos falar de uma concordância perfeita ou de uma convivência harmoniosa com a escola, porque o conflito político entre a comunidade educacional democrática e o regime é um fato concreto. Pensar e debater a realidade não é crime. De ideias conflitantes podem nascer novas propostas e posicionamentos”.

Resgastes históricos na área cultural (edições nº 3, 4 e 5) também estão presentes de forma marcante nas edições do jornal Avante, como as memórias do Grupo de Teatro Canopus e a história também de outro grupo de teatro da ETFGO, o Iniciação, também tem seu espaço em edições do jornal estudantil. Na edição de fevereiro de 1983, foi noticiada a primeira apresentação do grupo, após “aproximadamente um ano de ensaios, testes, pequenas montagens”, destaca o jornal. Este primeiro trabalho teve como tema “A Semana Moderna de 1922”. O teatro era visto pelo movimento também como um espaço de lutas: “Portanto, esperamos que com um trabalho identificado com a realidade dos oprimidos, não exista lugar para comportamentos do tipo "estrelismo" ou "alienante", relata o jornal. No esporte, edições da OLINTEC (Olimpíada Interna da Escola Técnica) e dos JETs (Jogos das Escolas Técnicas) são lembradas, ora como agenda e ora com notícias dos jogos.

Como parte propriamente dita do movimento estudantil, os documentos tratam da trajetória do Grêmio, das eleições de diretoria deste e da diretoria da Escola Técnica, incentivo aos estudantes para que se engajem no movimento, assembleias de estudantes, balanços financeiros, participação em congressos, reivindicações de servidores, eventos como o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, atuação do Grêmio e avaliação ano a ano etc. O estatuto do Grêmio, que à época requeria aprovação do diretor da Escola Técnica Federal de Goiás para que entrasse em vigor, é um dos documentos que está disponível para a leitura.

Importância histórica

O coordenador-geral do DCE, Gerson, afirma que os documentos apresentados são “provas da combatividade e da vontade de mudança social que possui o movimento estudantil e suas entidades, como o Grêmio Estudantil e o DCE. Além de demonstrarem também o compromisso das mobilizações estudantis para com a democracia, simbolizam a autonomia, a prática da cidadania e o desenvolvimento humano que as entidades estudantis proporcionam aos alunos representados”, afirma.

Além do resgate histórico, o movimento defende a classe estudantil e seus interesses, na visão de Gerson, seja na defesa dos estudantes à frente das mobilizações ou os que nem mesmo participam delas. “Além de trazer também a construção das entidades de representação estudantil como o Grêmio, o DCE, os CAs e DAs, proporcionando aos discentes consciência de cidadãos”, pontua.

Sobre o papel dos grêmios ao longo do tempo e desse resgate histórico do movimento dos estudantes no IFG, presente nos documentos, o estudante defende que “as entidades estudantis tiveram papel fundamental em se tratando de satisfazer os interesses da classe estudantil ao longo dos anos. A exemplo, tivemos a queda da Ditadura Militar que em grande parte foi orquestrada pelas mobilizações estudantis, mesmo com as constantes perseguições dos militares aos estudantes que não se calavam ao regime. Outro exemplo foram as lutas constantes para melhoramento das políticas de assistência estudantil nas instituições do país nas últimas décadas”, finaliza.

Democratização da Escola

 Jornais dos movimentos estudantis expressam opinião de estudantes, manifestos e reivindicações. Professor Renato segura uma das edições que denota essa característica.

Para o professor Renato, “o acervo é importante porque registra e coloca à disposição de qualquer pessoa um momento importante da história desta instituição (ETFG, CEFET e IFG). Mostra a luta dos estudantes (junto com professores e funcionários) pela democratização da Escola. Estávamos já no finalzinho da ditadura militar, e, junto com a sociedade, lutávamos por democracia e liberdade. Era um momento de muita efervescência política, de revitalização dos movimentos sociais. Conquista das lutas deste período. Neste sentido, é sempre bom conhecer os ensinamentos de nossa história. E essa, ensina que nossas conquistas só são alcançadas com muita luta, especialmente em momentos como o que vivemos, em que o ensino público sofre grandes ataques. As lições do passado sempre são úteis”, pontua.

Em relação ao movimento estudantil, o professor afirma que as reivindicações da época giravam em torno da direção geral da escola, das melhores condições de ensino, da luta pela manutenção da merenda escolar gratuita, “que foi uma conquista do movimento estudantil”, da ampliação dos empréstimos de materiais escolares para os cursos técnicos, “pois muitos alunos não tinham condições de adquirir” e outra luta importante foi a contra a mudança de uniforme.

O jornal Avante teve importância significativa, segundo o professor Renato, pois “foi fundamental na divulgação e discussão de nossas bandeiras. Naquele momento era um dos principais canais de comunicação, porque atingia toda a escola e os estudantes não tinham, na época, smartphones. Então, como era um período de muitas lutas, o Jornal Avante ajudava bastante nas mobilizações e na socialização das questões que discutíamos”, finaliza.

 

União Nacional dos Estudantes Técnicos Industriais (UNETI)

O diretor do Grêmio do Câmpus Águas Lindas, Gerson, disponibilizou, ainda, documentos sobre a UNETI, que era a entidade estudantil nacional que representava os estudantes de todas as Escolas Técnicas Federais do país. “Com a ditadura militar, as entidades estudantis foram criminalizadas, mas depois da redemocratização a maioria delas foi refundada. O mesmo infelizmente não ocorreu com a UNETI e ela foi esquecida na história para sempre. Inclusive nós dos DCEs da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, dos IFs, dos Cefets e do Colégio Pedro II, estamos trabalhando internamente entre nossas comunidades para reativar a UNETI que se encontra esquecida há quase 60 anos!”, comenta. 

Para que o acesso seja público a todos e para que os documentos passem a constar do acervo do IFG, a Diretoria de Comunicação Social, que recebeu os arquivos do DCE para divulgação, fez o upload (envio) dos documentos para um drive (arquivo digital) institucional do IFG.

 

Acesse os documentos referentes à UNETI.  

Acesse os documentos referentes ao Grêmio da ETFGO.

Veja alguns itens do acervo

 

Diretoria de Comunicação Social/Reitoria

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