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80 anos do Campus Goiânia

Publicado: Sexta, 08 de Julho de 2022, 15h10 | Última atualização em Segunda, 11 de Novembro de 2024, 12h02

 80 anos IFG Câmpus Goiânia: possibilidades para a pesquisa e a escrita da História

Por isso é assustadora a posição do agente quando assume a atitude de distanciamento relativo, sendo sua isenção garantida pela melhor interpretação possível. Não a atitude em si mesma. Como deixar de aceitá-la? Idem quanto ao lembrar e refletir conjuntamente. Situar o problema, revê-lo na perspectiva do tempo, criticá-lo ou recuperá-lo fazem parte da retomada da função do agente. (Carlos Alberto Vesentini)


Um rápido olhar para o Câmpus Goiânia do IFG permite, em termos de instalação, identificar um espaço amplo com salas de aula, pátio, ginásios e laboratórios, o desenho de sua arquitetura mescla elementos “novos” e “antigos”. Em relação aos níveis de ensino - médio técnico integrado regular e EJA, licenciaturas, bacharelados, pós-graduação lato sensu e stricto sensu - e talvez o mais importante, o seu público, salta aos olhos a heterogeneidade de faixas etárias, de gênero e de identidades. Apesar deste olhar do tempo presente ser permeado pelo “imediato”, não é possível desconsiderar que se está diante de uma instituição centenária.

Se fosse possível traçar uma “linha do tempo”, em termos cronológicos seria necessário preenchê-la entre os anos de 1909 e 2023. No que se refere a uma identificação inicial, teríamos desde Escola de Aprendizes Artífices (1909) até Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás – IFG (2008). Assim, entre uma data e outra ou entre uma nomenclatura e outra, se constituem uma pluralidade de sujeitos, de projetos pedagógicos e políticos e, fundamentalmente, perspectivas de intervenção, as quais só podem ser lidas/interpretadas mediante o colorido do tempo em que foram gestadas.

Se as datas comemorativas trazem desafios para os exercícios de rememoração, fica o desafio para aqueles/as que se propõem a usá-las como ponto de partida para uma reflexão mais ampla. E não é tarefa fácil demarcar os recortes políticos e sociais, especialmente para uma instituição de educação que configura perspectivas formativas aglutinadoras de instâncias caríssimas para toda e qualquer leitura do social, a saber, formação de sujeitos e mundo do trabalho.
Assim, não é aleatoriamente que, mediante os termos adquiridos ao longo do tempo os esforços para definir o que seriam os conceitos que abarcariam os seus modos de “ver e ser vista”, trazem categorias caras, tais como “Politecnia”, “formação integrada”, omnilateralidade, dentre outros. Para aquele/a que procura conhecer a instituição fica o desafio de sua escrita.

Em 2023 o Instituto Federal de Goiás completará oitenta e um anos de funcionamento na cidade de Goiânia. Embora tenha sido criada na cidade de Goiás em 1909, a antiga Escola de Aprendizes Artífices, mudou-se para Goiânia após a construção da nova capital. Renomeada como Escola Técnica de Goiânia, a instituição foi parte importante da constituição da cidade e do estado desde então. Passando por diversas nomenclaturas que denotavam diferentes perspectivas da educação técnica, o hoje Instituto Federal de Goiás se multiplicou em diversos campis e regiões do estado. Apesar dessa abrangência, entendemos que a efeméride dos oitenta anos serve como um momento de reflexão sobre a importância da instituição para a cidade de Goiânia e sua região metropolitana. Criadas por decreto do presidente Nilo Peçanha em 1909, as escolas técnicas organizavam o ensino técnico de artífices que se difundiu durante o século XIX mais ou menos influenciado pelas propostas europeias de ensino politécnico.

A partir do decreto de 1909, cristalizou-se a ideia de educação dualista: estudo propedêutico para as camadas médias e abastadas, formação técnica para as camadas populares. Ainda na antiga capital do estado, a escola teve um papel central na formação dos jovens, considerando-se as dificuldades da cobertura educacional das regiões distantes do litoral. Na recém criada Goiânia, a agora Escola Técnica de Goiânia passou a ter ainda maior protagonismo na organização social da sua comunidade. Na nova configuração, a escola fez parte do esqueleto funcional da cidade, compondo o circuito art déco que formou os primeiros zoneamentos e que determinou, ao menos inicialmente, as expectativas que o poder político e econômico tinha sobre a nova capital. Nesse momento, pervertendo seu intuito inicial, a escola reuniu as novas elites e camadas médias de Goiânia, distanciando-se por algum tempo das classes populares que caracterizaram o público da instituição. Ao longo das décadas, o  Escola Técnica de Goiânia - a partir de 1965, Escola Técnica Federal de Goiás - constituiu parte importante da cidade, formando gerações de goianienses e estimulando o crescimento industrial da região. Em 1999 passou a chamar-se Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás (Cefet-GO). Essa mudança incorporou uma nova perspectiva: separação entre o ensino técnico e propedêutico, estudos concomitantes e criação de bacharelados da área tecnológica. Em 2008, o governo federal transformou os Cefets e as escolas técnicas em Institutos Federais, restabeleceu-se o ensino integrado, criaram-se os cursos de formação de professores e reforçou-se a importância da Educação de Jovens e Adultos e a relação entre ensino, pesquisa e extensão.

Hoje, quinze anos após a criação dos Institutos Federais, a antiga Escola de Aprendizes Artífices atende quatorze campis espalhados pelo estado de Goiás. Considerando-se esse histórico, entendemos que pesquisar e escrever a história dessa instituição colabora com a construção da história do ensino, da ciência, do desenvolvimento técnico e industrial de Goiás, além de aprofundar as reflexões sobre o ensino técnico integrado.

Em interface com a necessidade de pensar o “lugar” da instituição em nosso tempo presente, a retrospectiva em tela traz importantes marcadores, permitindo o surgimento de possibilidades de reflexão no que tange aos temas, objetos, sujeitos e práticas. Assim, alguns questionamentos surgem: qual o formato de uma escrita da história da instituição? Quais tipologias de fontes serão empregadas neste exercício? De que forma dinamizar a relação entre o passado e o presente, elemento inerente aos exercícios de rememoração?

Todas estas questões remetem ao ofício do/a historiador/a e serão o norte para o desenvolvimento do projeto de ensino “80 anos IFG Câmpus Goiânia: possibilidades de pesquisa e escrita da História”.

O projeto de ensino coordenado pelos professores Maria Abadia Cardoso e Paulo Miguel Fonseca reúne discentes do curso de Licenciatura em História e enquadra-se no Programa de Recuperação de Aprendizagens desenvolvido pela Instituição. Dividido em três módulos, os estudantes discutiram temas ligados à teoria e metodologia da História aplicados ao objeto da história do IFG nas suas diversas configurações desde 1909. Como atividades práticas, produzirão materiais de pesquisa a serem disponibilizados à Instituição para futuras pesquisas que abordem não só a história da escola, mas também os temas da educação em geral; o ensino técnico; a politecnia; e o ensino nas múltiplas áreas de atuação que a instituição se faz ou fez presente. Como produtos finais, essas atividades práticas se dividirão em três partes: 1) materiais de referência sobre as produções acadêmicas acerca da escola, 2) levantamento biográfico de personagens ligados à escola; 3) levantamento em acervos de periódicos de fontes históricas sobre a instituição.

Além dos professores citados, o projeto é desenvolvido pelos estudantes Bernardo Becerra, Daniela Silva, Elizângela Teodoro, Ester Gomes, Gabriela Gonçalves, Gabrielle Santos, Gabrielly Leão, Gicélia Silva, Jady Araújo, Kaliagna Carvalho, Lara Fábia dos Anjos, Lohayne França, Lowhyenne Santos, Maria Niracy Oliveira, Reuven Rezende, Sara Leão, Thiago Godim, Tiago Silva.

 

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