Pesquisa de professor do IFG comprova a diminuição da arborização perante o aumento de áreas comerciais em Goiânia
Na tese, Fábio de Souza investigou a supressão de árvores nos setores Central e Marista ao longo dos anos
Goiânia é intitulada por muitos como a capital verde. Porém, enquanto nos parques, por exemplo, ainda é possível encontrar várias árvores, o mesmo não é perceptível nas calçadas e canteiros de algumas das principais vias de Goiânia. O contínuo decréscimo na arborização para dar lugar aos espaços comerciais, por exemplo, em bairros como o Centro e setor Marista, foi investigado na pesquisa de doutorado do professor do Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás (IFG), Fábio de Souza. O estudo revela que a retirada de árvores de calçadas e canteiros nesses setores é resultante do confronto entre a expansão do uso comercial das áreas em detrimento da arborização viária.
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Na tese de título Arborização Urbana e Cidades Saudáveis: índice de supressão arbórea no sistema viário e sua influência na valoração do imóvel comercial, defendida em 2019, o professor Fábio de Souza comprovou a supressão arbórea em regiões no Centro e no setor Marista, a partir da análise de mapas e fotos aéreas históricas de vias desses dois bairros, para o desenvolvimento de um índice que comprovasse a relação entre o processo de remoção de árvores, especialmente das calçadas, e o crescimento de áreas comerciais. A pesquisa de doutorado do professor foi também tema de reportagem do jornal O Popular no dia 6 de janeiro ( Leia mais no site do jornal).
O interesse na pesquisa foi o de investigar as alterações no uso do solo nas áreas dos setores Central e Marista. De acordo com a tese, algumas das principais vias desses setores, que dantes eram apropriadas principalmente por residências, foram progressivamente, ao longo dos anos, modificadas em decorrência do crescimento de lotes comerciais, resultando em impactos na arborização.
“Naturalmente, em todas as cidades primeiramente ocorrem as ocupações por residências. Atrás das pessoas, vem o comércio. O comércio vai então tomando conta de tudo. Acaba que as pessoas são expulsas, porque o lugar vai perdendo qualidade de vida muito em função do comércio. E, à medida que vão aumentando as áreas comerciais, vai perdendo também o espaço para a arborização, especialmente, as árvores nas calçadas”, explica o professor Fábio de Souza.
Para a investigação do estudo, o docente elegeu a análise do trecho do triângulo histórico na região Central, conhecido como o “Manto de Nossa Senhora”, que consiste nas áreas delimitadas pelas Avenidas Tocantins, Goiás, Paranaíba, Araguaia e Praça Cívica. Já no setor Marista, a área do levantamento é compreendida pelas vias: Avenida D, Rua 87, Rua 148, Avenida 136, Rua 90, Alameda Americano do Brasil, Alameda Coronel Eugênio Jardim, Alameda Coronel Joaquim de Bastos, Avenida 85 e Avenida Mutirão.
No estudo, professor utilizou a análise de fotos históricas, mapas de uso do solo e plantas de valores de imóveis obtidos junto aos órgãos da Prefeitura de Goiânia, para a criação de um método de cálculo da supressão arbórea a partir da utilização de softwares específicos. O docente desenvolveu uma metodologia para criar índices que comprovassem as alterações do uso do solo em áreas do Centro e do Setor Marista, tendo como parâmetro de análise o mesmo período temporal para ambos os setores.
O professor Fábio de Souza conta que a monografia de sua graduação em Arquitetura e Urbanismo concluída em 1992, quando estudou o uso e ocupação do solo da região do Alto do Marista, também contribuiu com sua tese, pois ele já possuía um acervo de fotos antigas, mapas e dados do setor Marista obtidos durante seu estudo anterior e que foram aproveitados no desenvolvimento da pesquisa de doutorado.
Além disso, foram feitas entrevistas com estudantes, moradores e comerciantes dos setores Central e Marista, com objetivo de avaliar a percepção das pessoas a respeito da relação entre a arborização e as áreas comerciais. As respostas das entrevistas demonstraram que a maioria das pessoas concordaria em pagar um preço maior pela mercadoria vendida nas lojas da rua com árvores, ou seja, os entrevistados agregaram valor e valorizaram a arborização das vias comerciais.
Resultados
De acordo com os dados da pesquisa, nas áreas na região Central, em 1961, havia 2.125 espécimes de árvores, sendo 1.604 ( 75,48%) dispostas nas calçadas e 521 (24,52%) nos canteiros. Já em 2016, a quantidade de árvores na mesma região caiu para 1.516 espécimes, com registro de 1.027 (48,33%) árvores nas calçadas e 489 (23,01%) nos canteiros. Neste mesmo local, em 1961, totalizavam 264 lotes comerciais nas vias do setor Central, aumentando para 725 lotes comerciais em 2016.
Já no setor Marista, a quantidade total de árvores encontradas foram 4.282 espécimes no ano de 1992, distribuídas em: 3.280 (76,60%) nas calçadas, 912 (21,30%) no canteiro central e 90 (0,21%) nas praças. Em 2016, a quantidade total de espécimes de árvores caiu para 3.585, sendo registradas 2.667 (62,28%) nas calçadas, 834 (19,48%) nos canteiros centrais e 84 (1,96%) nas praças. Noutro prisma, ocorreu um aumento ao longo dos anos nas áreas de uso comercial do setor Marista, registrando, ao todo, 320 lotes comerciais em 1992, que passou a 1.455 em 2016. Sobre essas mudanças, o professor destaca: “O Centro já vem perdendo árvores há muito tempo. Mas, o setor Marista perdeu demais. Era um setor cheio de árvores e hoje, praticamente, a maioria das árvores está apenas nas praças”.
A respeito dos impactos do crescimento comercial nessas áreas e supressão das árvores, o docente considera que esse processo é decorrente de uma cultura errônea que associa um menor valor ao imóvel comercial que possui árvores em suas fachadas. “ Existe essa cultura que tirar a árvore vai dar mais visibilidade, mas, na verdade, o que atrapalha não é a árvore, na minha opinião. O que atrapalha é uma falta de um Plano Diretor de Publicidade que auxilie isto”, ressalta o professor Fábio de Souza. “Inclusive essa proposta de revitalização das áreas históricas, no Centro de Goiânia e em Campinas, é muito interessante, porque despolui as fachadas”, acrescenta.
Ele cita o caso da Avenida 24 de Outubro, no setor Campinas, em Goiânia, como exemplo de uma via totalmente caracterizada por muitas fachadas comerciais e sem árvores, causando até uma poluição visual, prejudicando a distinção entre as lojas. Neste caso, o professor afirma que não é a presença de árvores o que prejudica a visibilidade comercial nessa via, mas sim, a falta de um Plano Diretor para organizar a publicização das fachadas comercias na avenida. Segundo ele, a cidade carece também de uma atualização do Plano Diretor de Arborização Urbana, pois o último levantamento foi realizado em 2008, pela Prefeitura de Goiânia.
Cidades saudáveis
Para o pesquisador, as cidades atualmente precisam estar adequadas ao movimento de cidades saudáveis, no qual pesam diversos fatores para a promoção da qualidade da vida urbana. Entre esses, um ponto relevante é a valorização ambiental, que perpassa também pela preservação do verde de acompanhamento viário, ou seja, a existência de árvores nas calçadas e nos canteiros nas ruas.
O professor Fábio de Souza cita os famosos boulevards (as alamedas mais famosas no mundo, como a Champs-Élysées, em Paris, na França, que possui vários comércios e é totalmente arborizada desde o século XIX) como modelos de vias arborizadas em cidades consideradas como saudáveis. Goiânia, explica o professor, tem os boulevards como influências no seu modelo urbanístico projetado no plano piloto proposto por Attílio Correia Lima, na época da criação da cidade nos anos de 1930.
O docente destaca que a preservação de árvores nas ruas das cidades traz como benefícios: o sombreamento das vias, colaborando para temperatura de até 5º graus a menos; maior umidade do ar; isolamento acústico, auxiliando para a propagação de menos barulhos nas vias; manutenção do solo, evitando assim a impermeabilização, o que resulta em menos enchentes; paisagens mais bonitas e valorização dos imóveis.
Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia do IFG
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