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Pós-graduação

Professor surdo conquista título de Mestre pelo programa ProfEPT/IFG

Publicado: Sexta, 29 de Outubro de 2021, 09h45 | Última atualização em Sexta, 12 de Novembro de 2021, 18h39

Diego Leonardo Pereira Vaz é docente no curso de Pedagogia Bilíngue do IFG – Câmpus Aparecida de Goiânia e defendeu nesta quarta-feira, 27 de outubro, a dissertação de sua pesquisa sobre metodologias para o ensino de Língua Portuguesa para surdos

Print de tela feito durante a sessão de defesa da dissertação de mestrado do professor Diego Leonardo Pereria Vaz, realizada pela plataforma Google Meet
Print de tela feito durante a sessão de defesa da dissertação de mestrado do professor Diego Leonardo Pereria Vaz, realizada pela plataforma Google Meet

Motivo de comemoração para o curso de Licenciatura em Pedagogia Bilíngue, para o Instituto Federal de Goiás (IFG) e para a comunidade surda, foi laureado mestre nesta quarta-feira, 27 de outubro, pelo Programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do IFG, o professor Diego Leonardo Pereira Vaz, primeiro e único professor surdo da instituição. Diego teve aprovados sua dissertação “Ensino da língua portuguesa para surdos: desafios metodológicos de letramento” e o produto educacional e-book “Ensino de Português como segunda língua para surdos: planos e estratégias de biletramento”. Ele teve como orientador da pesquisa e no desenvolvimento do produto educacional, o professor Dr. Wanderley Azevedo de Brito.

Ao analisar como a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a cultura surda podem contribuir para o desenvolvimento de metodologias de ensino de Língua Portuguesa em ambientes bilíngues, a pesquisa do professor Diego Leonardo Pereira Vaz verificou que muitos profissionais que atuam no ensino de Português para surdos não consideram com a profundidade necessária as especificidades da estrutura gramatical da Libras e a cultura surda para planejar as suas metodologias de ensino. Ele conclui que uma formação adequada dos professores que considere esses fatores possibilita à pessoa surda eliminar barreiras e conseguir expressar-se bem na língua portuguesa.

“A língua natural das pessoas surdas constitui um sistema linguístico de natureza visual-motora, com dimensões sociais, linguísticas e pedagógicas facilitadoras do processo de letramento dos estudantes surdos na Língua Portuguesa. Se bem planejadas e desenvolvidas, as estratégias didáticas e as metodologias de ensino de língua portuguesa para surdos podem facilitar os processos de letramento e biletramento de Surdos”, afirma ele em sua dissertação. Diego oferece, por meio do produto educacional, planos de aula e estratégias didáticas para auxiliar professores que ensinam Português para surdos do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental.

No momento da defesa da dissertação, o professor Diego Leonardo Pereira Vaz discorreu sobre o percurso que o levou a definir o tema da pesquisa e falou do desejo de poder contribuir para que o surdo tenha uma formação educacional adequada. Ele destacou a importância de os professores serem preparados a utilizar metodologias específicas para essa mediação, levando em conta a cultura surda e a língua de sinais. Diego ressaltou o direito do surdo de ter a língua de sinais como sua primeira língua, inclusive para alcançar maior domínio do Português. O professor agradeceu muito ao seu orientador e às demais integrantes da banca pelo apoio e pelos desafios colocados a ele como pesquisador, para a realização do trabalho. Diego agradeceu muito também aos intérpretes de Libras.

 

Inovação

A banca examinadora, presidida pelo orientador professor Dr. Wanderley Azevedo de Brito (ProfEPT/IFG), foi integrada também pela professora Dra. Waléria Batista da Silva Vaz Mendes (IFG) e a professora Dra. Layane Rodrigues de Lima (UFG). Eles destacaram a importância da pesquisa e sua contribuição para o ensino de Português para surdos. O professor Brito ressaltou que a sessão de defesa configurou-se momento de muita importância para o professor Diego, para o curso de Pedagogia Bilíngue e para o Instituto Federal de Goiás. Ele diz que a pesquisa desenvolvida por Diego Leonardo contribui para ampliar os estudos sobre a educação de surdos na perspectiva da Educação Bilíngue e, sobretudo, nas discussões mais recentes sobre a concepção do biletramento de pessoas surdas, no contexto da sociedade predominante de ouvintes.

O orientador explica que o biletramento possibilita que os surdos se comuniquem com as pessoas na comunidade surda e, ao mesmo tempo, na comunidade de ouvintes. “Isso é inclusão”, destaca. O professor Wanderley Azevedo de Brito comenta, a partir do tema pesquisado pelo professor Diego Leonardo Pereira Vaz, que “os sistemas educacionais precisam avançar nas suas condições pedagógicas para atender as pessoas surdas no seu processo de aquisição dos dois idiomas necessários para a inclusão: a Libras, como língua natural dos surdos, além Português escrito, como segunda língua”.

Para a professora Waléria Batista da Silva Vaz Mendes, a pesquisa realizada “é um trabalho de suma importância não só para o povo surdo, mas também aos professores que trabalham e aos que estão sendo formados para trabalhar com surdos”. Ela enalteceu a apresentação visual e a qualidade do conteúdo do produto educacional que dará um suporte aos docentes que atuam na educação de surdos no ensino fundamental.

A professora Layane de Lima apontou o ineditismo da pesquisa, ao tratar do biletramento na educação de surdos. O letramento é um processo que vai além do aprendizado de leitura e escrita, por considerar a função social de tais competências, sendo o biletramento um conceito novo e ainda pouco estudado. A professora recomendou ao professor Diego que se aprofunde no tema em pesquisas futuras, por sua importância do ponto de vista científico e educacional e por sua contribuição social. Layane enalteceu o fato de a pesquisa ter sido feita por um surdo, que, a partir de sua própria vivência, indica como o ensino da língua deve ser ministrado aos surdos.

Na avaliação da coordenadora da curso de Licenciatura em Pedagogia Bilíngue, professora Késia Mendes Barbosa Oliveira, o primeiro mestre professor surdo formado por um dos programas de pós-graduação do IFG é fato extremamente relevante. “Quando um professor surdo conquista algo tão importante, é um emblema, é um símbolo para os demais alunos, tanto surdos quanto ouvintes. Mostra pra todos nós, que podemos, que estamos aqui, que o surdo pode ocupar esses espaços, pode ser um professor pesquisador”, afirmou Késia. Para ela, o título conquistado pelo professor Diego é alegria que extrapola o curso e o câmpus, “pra fazer história aqui no Instituto Federal de Goiás”, disse.

Fizeram tradução em Libras e em Português na sessão de defesa da dissertação, os intérpretes Lucimar Alves de Oliveira, Leone de Morais Nogueira, Lucas Eduardo e Leonardo Teles Lima. O momento contou com presenças de professores, técnicos administrativos e alunos do IFG, além de familiares e amigos de Diego Leonardo. Após ser declarada sua aprovação, muitos cumprimentos e saudações tomaram conta da tela da sala virtual pelo chat.

 

O ProfEPT

O Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica – ProfEPT é o primeiro mestrado profissional ofertado em rede nos institutos federais, tendo 40 instituições associadas. No IFG, o curso é ofertado no Câmpus Anápolis e o professor Diego Leonardo Pereira Vaz integrou a segunda turma do Programa no IFG.

Para o professor Wanderley Azevedo de Brito, que já esteve na coordenação do ProfEPT e atualmente é diretor de Pós-Graduação do IFG, o título de mestre conquistado por um professor surdo “indica que o ProfEPT e a nossa instituição estão colocando em prática políticas inclusivas de formação de profissionais da educação na pós-graduação e, portanto, em cumprimento de sua função social”, afirmou.

 

Imagens da sessão de defesa

 

Coordenação de Comunicação Social e Eventos / Câmpus Aparecida de Goiânia

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