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Projeto Tradutor Bidirecional apresenta luva e software que possibilitam diálogo direto entre surdos e ouvintes

Publicado: Quarta, 05 de Junho de 2019, 12h56 | Última atualização em Quarta, 05 de Junho de 2019, 13h42

Protótipo da luva transceptora foi desenvolvido pelo IFG e será compartilhado, em kits, com instituições da Rede Federal

Luvas do projeto Tradutor Bidirecional
Luvas do projeto Tradutor Bidirecional

Pense em uma cena: uma pessoa chega para conversar com você vestindo uma luva e por meio dos gestos, o que ela quer disser aparece na forma escrita, na tela de um computador, em português, inglês e várias outras línguas. Essa é a proposta do projeto de pesquisa do Sistema de Tradutor Bidirecional de Língua de Sinais, que está sendo desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Instituto Federal de Goiás (IFG). Em reunião para demonstração do protótipo da luva e do sistema, realizada na tarde de ontem, 4, na Reitoria, uma parte do grupo mostrou o funcionamento e destacou seus principais benefícios, principalmente para a comunidade surda, tanto das instituições de ensino, como para a população que possui essa necessidade específica e que usualmente utiliza os serviços dessas instituições.

Além de possibilitar a comunicação direta entre surdos e ouvintes, há uma outra possibilidade em desenvolvimento que, a partir do texto escrito que aparece na tela do computador e com a utilização de um aplicativo que faça a leitura oral do que está escrito, o diálogo entre uma pessoa cega e uma pessoa surda. A proposta se constituirá em um instrumento importante para facilitar o diálogo dos surdos dos Institutos Federais com toda a comunidade acadêmica e externa, além de apoiar essas pessoas na utilização dos serviços da biblioteca, na busca por informações na recepção das unidades de ensino ou mesmo em um diálogo informal e, em especial, nas atividades de ensino.

Só no IFG, existem cerca de 23 estudantes surdos matriculados. Esses alunos frequentam cursos nos câmpus Aparecida de Goiânia, Jataí, Itumbiara, Anápolis e, além deles, há professores surdos nos Câmpus Goiânia e Goiânia Oeste, segundo dados da Pró-reitoria de Ensino. A Instituição possui tradutores e intérpretes de Libras, que assistem esses estudantes nas atividades acadêmicas, mas na rotina escolar, fora da sala de aula, o processo de aprendizagem é desafiador.

“É um instrumento de tecnologia assistiva que vai trazer um ganho para comunidade de surdos, porque você ter a condição de colocar um surdo pra se comunicar com um cego ou com qualquer pessoa, é fantástica. Se pensarmos hoje, no IFG, seria interessante ter nas bibliotecas, pois há momentos em que não há intérprete de Libras por lá. Daí o surdo chega, veste a luva e teria uma conversa. Poderia ser utilizada em uma quantidade enorme de locais, pois o objetivo é facilitar o diálogo e não eliminar a necessidade de ter intérpretes. É um instrumento a mais pra compor toda uma política de ações assistivas da Instituição”, ressalta o coordenador do projeto, professor Wesley Pacheco.

A professora Waléria Vaz, do Câmpus Aparecida de Goiânia, e participante da equipe, compartilha da mesma opinião de Pacheco, ao afirmar que falta no cotidiano da instituição um instrumento que facilite o diálogo entre o surdo e a comunidade. “No dia a dia, o IFG garante o intérprete/tradutor, mas muitos serviços poderiam ser facilitados com o tradutor bidirecional, na biblioteca, recepção e diversos setores institucionais”, destaca.

Projeto

O projeto, desenvolvido desde 2014, recebe há dois anos apoio financeiro da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), e está em processo de montagem de 50 kits a serem distribuídos a todos os Institutos Federais do país, ao Colégio Pedro II, aos Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet) e à Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UFTPR). Cada kit será composto por um par de luvas bidirecionais de língua de sinais, um computador, um aparelho Kinect (que é um aparelho usado em jogos de vídeo games para captar movimentos/gestos por meio de um sensor para serem traduzidos), um software tradutor e interpretador de língua de sinais. Ao todo, o projeto recebeu recursos da ordem de R$ 1,1 milhão, para custear bolsas a estudantes e pesquisadores, material e a produção dos kits a serem distribuídos, o que é um valor reduzido para os benefícios que o sistema proporciona, afirma Pacheco.

Segundo o pesquisador, o “projeto tradutor bidirecional busca viabilizar a comunicação entre surdos e ouvintes. Os pesquisadores trabalharam com a implementação de hardware (luvas e o Kinect), que traduz expressões de qualquer língua de sinais para a modalidade escrita de qualquer língua oral, o permitirá seu uso por diferentes países. Foi desenvolvido um hardware que identifica os parâmetros das línguas de sinais, utilizando reconhecimento de padrões com abordagem sensorial para decodificação na língua escrita”, conta. Em outras palavras, a pessoa surda veste as luvas e por meio dos gestos que ela faz e que estão inseridas na Libras, o que ela quer “falar” passa a ser traduzido quase que simultaneamente para a língua portuguesa. O texto escrito aparece na tela do computador conectado às luvas e, quando programado no software, aparece também em diversas outras línguas.

Entre as etapas realizadas do projeto estão a de consultoria (etapa 1) para desenvolvimento do hardware, que deu origem ao protótipo da luva bidirecional; a de construção do banco de dados para validação dos gestos e tradução na forma escrita; que está sendo iniciada agora. A terceira fase será a montagem e o acoplamento dos circuitos na luva e envio para que uma empresa, que já está em contato com a equipe do projeto, faça a produção da luva em série. Após, haverá a fabricação em série e conexão dos circuitos eletrônicos na luva, precedida do treinamento para utilização do sistema e distribuição dos kits às instituições da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Para dar suporte à luva e as expressões a serem traduzidas, está sendo elaborado um banco de dados com palavras, frases e todo o vocabulário (gestos) da Libras traduzida para o português, etapa que conta com a participação dos professores Thiago Cardoso Aguiar e Waléria Vaz, ambos do Câmpus Aparecida. Eles estão inserindo os gestos e as traduções no banco de dados, que deve ser dinâmico e pode ser adequado conforme os regionalismos e as expressões que a própria Libras possui nas diversas regiões do país.

Estudante do mestrado profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) e professor do IFG, Diego Leonardo Pereira Vaz é surdo e afirma que o projeto é “importantíssimo. Essa luva vai facilitar o processo de comunicação, tanto para o aluno surdo como pra mim, que também sou aluno. Quanto mais trabalharmos nessa luva, mais vai facilitar a comunicação pra comunidade surda do Brasil”, conta. A maior dificuldade de Diego na sala de aula, como estudante, é a questão da adaptação, principalmente em relação aos professores entenderem as particularidades dos surdos no entendimento da língua portuguesa. “Está sendo um desafio pra mim porque a leitura não é fácil”, finaliza Diego.

O projeto conta com uma equipe formada por estudantes, professores e servidores dos câmpus Senador Canedo e Aparecida de Goiânia. São 26 bolsistas, 16 pesquisadores, sendo cinco do Instituto Politécnico do Porto (instituição parceira), quatro de Aparecida, sete de Senador Canedo, mais 23 voluntários e um professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC).

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, Paulo Francinete Silva Júnior afirma que a luva bidirecional vai facilitar o acesso da comunidade surda à comunicação, não apenas no dia a dia, mas também em atividades de ensino, pesquisa e extensão, além de aproximar o surdo da sociedade.

Parceria

A parceria iniciada com o IPP começou em 2014, quando o projeto efetivamente começou. A Instituição possuía o software que fazia a leitura dos gestos, mas não tinha uma luva que fosse financeiramente acessível e nem que tivesse todos os recursos. O custo da luva em outros países é de cerca de 5 mil dólares cada par. Em tratativas entre o reitor do IFG, professor Jerônimo Rodrigues da Silva, e representantes do IPP, ficou acertado que o Instituto brasileiro desenvolveria toda a estrutura eletrônica da luva e confeccionaria também a parte têxtil. E isso vem ocorrendo desde então. Hoje, o custo das luvas produzidas pela equipe brasileira é de R$ 1.000 cada par.

Atualmente, a luva funciona com o auxílio de um software de teste, também elaborado pela equipe de pesquisadores do projeto, por meio de um cabo conectado entre a luva e o computador. A ideia agora, segundo Pacheco, é aperfeiçoar a luva e eliminar o cabo, que hoje serve como alimentador de energia e conexão com o computador. “Queremos aperfeiçoar, acoplar uma bateria à luva e fazer com que ela funcione sem o cabo, por meio da tecnologia de bluetooth. As luvas possuem internamente os conectores eletrônicos e sensores que em frente ao Kinect possibilitam a tradução dos gestos”, diz. Para essa segunda versão da luva não haverá aumento de gastos que incidirão no preço final do produto, segundo Pacheco, o que será necessário é o investimento para desenvolver o software, pois atualmente o que está sendo utilizado é apenas para teste.

Os rumos do projeto serão tratados em uma reunião hoje, 5, em Brasília entre o reitor do IFG, o coordenador do projeto, integrantes da equipe e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e representantes da Setec. O objetivo é conseguir financiamento para as etapas que se seguem.

Transferência de Tecnologia

Outro aspecto importante do projeto, destaca Pacheco, é que após o encerramento do dessas fases da pesquisa, haverá a transferência de tecnologia. A Setec tentará viabilizar junto a grandes empresas mundiais de tecnologia, como a Google e a Nintendo, a transferência da tecnologia da luva bidirecional, para que seja utilizada no desenvolvimento de jogos eletrônicos. Mas as instituições de ensino superior, como o IFG, poderão continuar desenvolvendo o projeto para utilização interna e sem fins comerciais, pois a legislação resguarda esse procedimento. A patente já foi registrada pelo IFG em 17 de abril desse ano.

Proveniente do projeto da Luva Bidirecional, outras ações estão em andamento ou com projetos elaborados. Uma delas é de elaboração de um Glossário em Libras, com participação de todos os Institutos Federais do País. Nesse glossário haverá expressões e conteúdos referentes às disciplinas que os estudantes possuem nos diversos cursos ofertados nos IFs brasileiros, como nos de Administração, Mecânica, Física e Matemática. “Queremos construir um espaço onde todos os glossários sejam criados, nas disciplinas, convidado toda a Rede para participar. Será um glossário em Libras, com filmes para serem vistos no contexto das áreas, uma palavra traduzida para língua portuguesa e depois pra Libras, com diversos recursos”, conta a professora Waléria.

 

Equipe presente na apresentação do projeto, na Reitoria.
Equipe presente na apresentação do projeto, na Reitoria.

 

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Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.

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