6° Encontro de Culturas Negras é marcado pela diversidade da programação
Evento terminou no sábado, dia 14 de dezembro, quando foi realizado o 10º Seminário de Educação para as Relações Étnico-Raciais
A sexta edição do Encontro de Culturas Negras do Instituto Federal de Goiás (IFG) foi marcada por uma diversificada e rica programação. O público que prestigiou o evento pôde ter acesso a oficinas, mesas-redondas, exposições, feira, além de muita arte e cultura, debates e discussões em rodas de conversas, fora os espetáculos e shows. O Encontro foi realizado entre os dias 12 e 14 de dezembro no Câmpus Uruaçu e teve como tema central "O começo, o meio e o começo: resistência e ancestralidade".
Como ressaltou a diretora-geral do Câmpus Uruaçu, Andreia Prado, "o Encontro deste ano foi um momento muito potente de troca, aprendizado e fortalecimento das lutas. A integração entre os alunos dos diferentes câmpus do IFG e a articulação com as comunidades tradicionais e movimentos sociais realmente têm um poder transformador!”
Discussões sobre o racismo
No segundo dia do evento, 13 de dezembro, o auditório Elizete Soares de Sena foi palco de mesas que pautaram, com enfoques diferentes, a temática do Encontro. A primeira mesa do dia trouxe o tema “Futuro é ancestral”; a segunda focou o assunto “Antirracismo em ação”. Nas duas, o compromisso com o antirracismo, com a resistência e com a ancestralidade ficaram evidentes.
Como destacou a professora Roseane Silva (Sintego), uma das participantes da mesa sobre Antirracismo, “é preciso falar do racismo, é preciso tocar o dedo na ferida”. “Como ativista do movimento negro, vejo muitas denúncias. E precisamos mesmo garantir nosso lugar. É fundamental que a gente continue na luta, não só em relação aos trabalhadores da Educação, mas de todas as pautas. O importante é estarmos em todos os lugares e demarcar território de forma consciente”, pontuou. E isso, segundo a docente, "deve vir acompanhado de ações de formação, de uma educação que enfrente os desafios que estão presentes no cotidiano".
Professores Neville Vilasboas (IFG) e Roseane Silva (Sintego)
Na mesa mediada pelo professor do Câmpus Anápolis, Neville Julio de Vilasboas, foi discutida também a questão sobre “como a gente lida com o racismo institucional”. Para Roseane, “precisamos lidar com ele diretamente, de diversas formas, inclusive por meio de atos públicos [...] E o projeto Abraço Negro é uma dessas formas”, explica Roseane. Realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), a ação há mais de 10 anos busca promover a valorização da cultura afro-brasileira, destacar a importância da igualdade racial e reconhecer as grandes contribuições de personalidades negras para a sociedade. Como destacou a docente, “todas as escolas públicas do estado de Goiás, municipais e estaduais, são convidadas a participar e devem posteriormente se comprometer com as ações, como a discussão sobre o racismo, a nossa história, a nossa memória”.
Exposição: "O Trapiche"
Além de discussões e oficinas que abordaram várias faces da cultura, como a dança, a poesia, a música, a gastronomia, a capoeira, a arte e outros saberes, o Encontro de Culturas Negras abriu espaço para uma exposição coordenada pela professora Janice Gomes intitulada “O Trapiche”. A ação parte do olhar e da perspectiva de estudantes do Câmpus Uruaçu para a obra “Capitães da Areia”, de Jorge Amado.
Uma das responsáveis por apresentar a exposição ao público é a aluna do Câmpus Uruaçu, Ágata Machado. Segundo ela, “a exposição foi feita a partir de interpretações do ‘Trapiche’ presente no livro de Jorge Amado, é a perspectiva dos alunos do IFG Uruaçu. Este foi um trabalho feito pelos alunos do primeiro ano dos cursos técnicos integrados de Edificações e Informática”.
Exposição "O Trapiche" é apresentada no Encontro de Culturas Negras
Como explica Ágata, os alunos que participaram da atividade interpretaram a obra de Jorge Amado por meio de desenhos feitos por eles mesmos, de imagens do filme “Capitães da Areia”, de 1971, e de imagens feitas por inteligência artificial a partir de comandos dos alunos do Câmpus Uruaçu: “por meio desse trabalho, tivemos a chance de ver diferentes perspectivas sobre a obra do Jorge Amado”. A exposição ficou aberta para o público durante o evento.
Outras atividades
Ao longo do segundo dia, também foram realizadas atividades de rodas de conversas, que trataram de temas como a “Marcha das Mulheres Negras”, ministrada pela professora Janira Sodré e a coordenadora-geral do Encontro de Culturas Negras, Marciella Carvalho; a “Crespura”, com Neli Gomes, José Abdias e Djavan; “Movimento Estudantil”, com o Grêmio Cecília Meireles do Câmpus Uruaçu.
Oficinas, exposições e rodas de conversas são realizadas durante o Encontro de Culturas Negras
Também foi realizado o espetáculo Negrinha: uma releitura pelo Teatro do Oprimido. À noite, foram realizados shows do Afrogang Crew com Kaemy e de MC Marinho com participação do Rapadura, além de batalha com MC’s e Slam, no pátio coberto do evento.
Último dia do evento: Seminário de Educação para as Relações Étnico-Raciais
No último dia do Encontro de Culturas Negras, foi realizado o esperado 10º Seminário de Educação para as Relações Étnico-Raciais. Como destacou a diretora do Câmpus Uruaçu, Andreia Prado, “o Seminário de Educação evidenciou a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Isso não só fortalece a Instituição, mas também amplia o impacto social das ações realizadas.”
Ao longo da manhã do sábado, 14, o público apresentou os trabalhos a respeito de variados assuntos: Educação para relações étnico-raciais, políticas públicas, letramento racial, formação e experiência docente de diferentes áreas do conhecimento, invisibilidade social, dança popular, racismo científico, literatura e letramento, preconceito. A autora Carolina de Jesus também foi um dos temas de uma das apresentações do Seminário.
10º Seminário de Educação para as Relações Étnico-Raciais é realizado no Câmpus Uruaçu
Entre os muitos temas abordados estava o da História da África, o feminismo negro, o ensino da cultura afro-brasileira, a poesia afro-brasileira, a dimensão pública do racismo, perfil dos cotistas, educação geográfica antirracista, entre outros. Os eixos temáticos dos trabalhos apresentados seguiram as seguintes linhas: a) antirracismo, resistência e ancestralidade: justiça climática, racismo ambiental, contra colonialidade, racismo algorítmico e movimentos sociais; b) encruzilhadas atlânticas: literatura, artes e culturas populares amefricanas, decolonialidade e diversidades no contexto brasileiro; c) educação para as relações étnico-raciais, políticas públicas, letramento racial, formação e experiências de docentes de diferentes áreas do conhecimento; d) identidades, corpo e estética: intersecções de raça/etnia, gênero, gerações, sexualidade, classe social, entre outros; e) perspectivas e experiências com o recorte étnico-racial nas áreas de Ciências Biológicas, Exatas, da Saúde e Agrárias e discussões interdisciplinares: trabalhos, relatos e experiências com a temática étnico-racial de todas as áreas do conhecimento.
Bordados
Ao longo do Encontro de Culturas Negras, foi realizada a tradicional feirinha. Trazendo o tema “Resistência e Ancestralidade”, a feira foi um espaço para exposições e vendas de diversos tipos de produtos, de bonecas artesanais a produtos agroecológicos produzidos pelas comunidades quilombolas da região de Uruaçu. Um desses produtos era o bordado.
Quem falou a respeito dos bordados produzidos pela Cooperativa Bordana foi o designer e ilustrador das peças, Luiz Felipe, que já trabalha na cooperativa há 4 anos. Formado em Design de Produtos pela Universidade Federal de Goiás, Luiz foi estagiário na Bordana e hoje trabalha com bordadeiras que fazem parte da cooperativa.
Luiz Felipe apresenta a Cooperativa Bordana durante o Encontro de Culturas Negras
De acordo com Luiz, as bordadeiras são em sua maioria do Conjunto Caiçara. Este foi o lugar onde surgiu a ideia de criar a cooperativa em 2008. Na ocasião, algumas mulheres, com idade entre 40 e 75 anos, começaram um movimento de união e aprendizado. A história sobre o início da cooperativa pode ser conferida no site da cooperativa. O portal foi feito em parceria com o IFG e funciona como uma ferramenta para divulgação de informações da Bordana.
Como é destacado no site, “A cooperação é o fio que entrelaça nossas histórias e nos leva a novos horizontes. É a força que abre caminhos, semeia oportunidades e floresce em trabalho e renda. Em cada gesto coletivo, contribuímos para o fortalecimento e crescimento do cooperativismo, cultivando um futuro mais justo e próspero para todas/os”. Os produtos da Cooperativa foram expostos e colocados à venda durante os três dias do evento, no Câmpus Uruaçu.
Fim do Encontro: Vida Longa!
Além do Seminário, da feira e de diversas oficinas e da apresentação cultural do Grupo Sankofa, do Câmpus Inhumas, no último dia do evento também foi realizado o Encontro Quilombola com o tema “Memórias, Saberes e Identidade”. O encontro foi mediado por Lucilene Kalunga. Na ocasião, as lideranças quilombolas compartilharam suas histórias e riquezas, ressaltando a importância da transmissão de saberes entre gerações. Segundo Andreia Prado, “o Encontro Quilombola, ao estreitar os laços com as comunidades tradicionais, vai além do acadêmico, promovendo uma rede de apoio e resistência entre as lideranças”.
Encerramento do Encontro de Culturas Negras
Já no final da tarde, encerrando o Encontro de Culturas Negras, foi realizado um cortejo musical com o grupo Donas da Roda com destino ao Quilombo Urbano João Borges Vieira. O Encontro foi finalizado com o show do Quintal da Nega e a participação de Andreia Caffé, do Rio de Janeiro.
Para a diretora do Câmpus Uruaçu, o cortejo foi um momento muito especial: “Com o grupo Donas da Roda, dando vida ao trajeto que conecta o câmpus à associação quilombola de Uruaçu, foi uma forma poderosa de levar a mensagem da caminhada até as ruas da cidade. É um gesto simbólico e prático de chamar todos para somar na luta, criando uma consciência coletiva e visibilidade. O show de encerramento com Quintal da Nega e participação especial da Andreia Caffé foi a celebração perfeita para um evento tão necessário como o Encontro de Culturas Negras, que se dedica a questões tão importantes de resistência, cultura e educação. Vida longa ao Encontro! E que ele continue sendo um espaço de integração, aprendizado e celebração das nossas raízes, da nossa história e das nossas lutas!”
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Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.
Fotos: Diretoria de Comunicação Social do IFG e Perfil oficial do Instagram @culturasnegrasifg
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