Professor destaca importância da Educação Bilíngue para empoderamento da pessoa surda

Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e professor efetivo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o professor André Reichert  é atualmente consultor de Educação de Surdos na Secretaria de Modalidades Especializadas (SEMESP) do Ministério da Educação (MEC) e foi um dos palestrantes do III Seminário Goiano de Educação Bilíngue, realizado na semana passada em parceria do Instituto Federal de Goiás e Prefeitura de Aparecida de Goiânia. Em entrevista à Coordenação de Comunicação Social do IFG Aparecida, traduzida pela professora Waléria Batista da Silva Vaz Mendes, que foi uma das coordenadoras do Seminário, o professor falou da importância da educação bilíngue, do significado do curso de Pedagogia Bilingue do IFG no processo de inclusão e dos avanços e desafios da comunidade surda na área da educação.

André Reichert está coordenando, no Ministério da Educação, o mapeamento da educação bilíngue no País, com o objetivo de conhecer onde estão os investimentos econômicos na área e apresentar uma proposta de ação para o governo federal, que incida em resultados em estados e municípios. Segundo ele, há atualmente no Brasil aproximadamente 10 milhões de surdos, mas que somente cerca de 2 milhões são usuários da Língua Brasileira de Sinais. Reichert destaca que o empoderamento linguístico é fundamental para que o surdo se fortaleça em sua identidade e tenha acesso aos espaços sociais a que tem direito.

Escola bilíngue

Nesse sentido, a escola bilíngue mostra-se como o ambiente mais adequado para a formação dos estudantes surdos, em especial até a conclusão do Ensino Fundamental. André Reichert comentou que não é contra a chamada escola inclusiva, em que crianças surdas e ouvintes convivem em um mesmo espaço, mas que sua eficiência depende de outros fatores que o Brasil ainda não alcançou na quase totalidade de suas escolas: um ambiente não apenas com bons intérpretes, mas com um acolhimento que permita ao surdo sentir-se como um igual, onde ele possa se comunicar compreendendo e sendo compreendido pela comunidade.

Na escola bilíngue, explica Reichert, o surdo obtém o empoderamento linguístico de que precisa com recursos como a Língua de Sinais, avaliação e metodologia de ensino específicas para ele.  O professor avalia que a escola inclusiva pode funcionar melhor no Brasil a partir do Ensino Médio. Para a educação de nível superior, André Reichert avalia os avanços vividos nos últimos anos, desde a criação do primeiro curso de Letras-Libras, em 2006, e, mais recentemente, do curso de Pedagogia Bilíngue no Instituto Federal de Goiás (IFG). Ele considera que esses foram passos fundamentais para uma nova forma de pensar a educação de surdos, destacando a importância da formação específica para a área. “A expectativa que temos sobre uma escola bilíngue é influenciar o surdo a se empoderar. Então, na verdade, a esperança que nós temos com a formação de novos educadores bilíngues é que futuramente esses alunos formados também possibilitem a criação de novos cursos”, avalia.

Passo a passo

André Reichert comenta que nos últimos anos o Brasil teve avanços relevantes na legislação voltada à comunidade surda, mas que muitas coisas não saíram do papel. Ele considera que atualmente as políticas públicas para pessoas surdas têm grande perspectiva de ir mais adiante, porque a comunidade surda está representada no Ministério da Educação com pessoas surdas e com experiência na educação bilíngue ocupando posições significativas, o que proporciona um diálogo mais direto com o governo. Ele ressalta que a luta é constante e que, a cada conquista, novas perspectivas vão sendo criadas.

Foram também palestrantes no III Seminário Goiano de Educação Bilíngue, as professoras Flaviane Reis, da Universidade Federal de Uberlândia na área de Educação Especial e Libras, e Karin Strobel, diretora de Políticas de Educação Bilíngue do MEC. O evento foi realizado de 17 a 19 de setembro em Aparecida de Goiânia e reuniu professores e estudantes de diversos municípios, inclusive de outros estados. A Realização, do IFG e da Prefeitura Municipal de Aparecida, contou com apoio da Universidade Federal de Goiás (UFG), do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS), Prefeitura de Goiânia, Secretaria de Estado da Educação, Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado de Goiás (Sintego) e Associação dos Surdos de Goiânia (ASG).

Coordenação de Comunicação Social e Eventos