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De Coletivo a Núcleo de Estudos: a importância do NEGRA na conquista por espaço e debate das questões étnico-raciais no IFG

Publicado: Sexta, 09 de Julho de 2021, 18h05 | Última atualização em Quarta, 28 de Julho de 2021, 10h50

Iniciativa criada por anseio de estudantes, hoje egressas, reúne discentes, servidores e comunidade auxilia a instituição a discutir e pôr em prática políticas relacionadas à igualdade racial

Imagem de um dos encontros dos membros do NEGRA, antes do período de pandemia de Covid-19
Imagem de um dos encontros dos membros do NEGRA, antes do período de pandemia de Covid-19

Desde 2015 o Câmpus Goiânia do Instituto Federal de Goiás conta com o Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Africanidades/NEGRA. Formado por estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes, além de membros externos à Instituição, o núcleo visa dar voz e visibilidade às questões étnico-raciais, com ações que reverberam também na comunidade externa ao congregar o eixo de extensão. Atualmente, o grupo promove reuniões quinzenais para debater diversos temas que perpassam pela afirmação de identidade e está aberto para receber novos membros que se interessem pelas questões de gênero e raça.

O NEGRA originou-se do Coletivo de Negras e Negros do IFG, criado em 2008 pelas egressas do curso de Tecnologia em Hotelaria e Turismo, Érika Pereira Santos e Eise Batista e pela professora Janira Sodré, da área de Filosofia e Ciências Humanas do Departamento Acadêmico 1 do Câmpus Goiânia. Segundo Janira, o então coletivo “tinha por finalidade pautar um projeto de educação livre de racismo, intercultural e multi-étnico, reunindo discentes, técnicos, docentes e comunidade externa, com foco nos movimentos sociais. Na qualidade de docente, estive envolvida na formulação e implementação nos dois momentos”, lembra a docente, que é coordenadora do NEGRA.

A mudança de nomenclatura ocorreu em novembro de 2015, durante a terceira edição do evento Territorialidades Negras, em uma jornada de memória da história institucional, houve o registro de que o NEGRA representa uma continuidade histórica das atividades do anterior coletivo.

Érika Pereira Santos lembra que a iniciativa de criar o coletivo veio do contexto em que existia um debate nacional das ações afirmativas nas universidades públicas e do que ela chama de “discussão da falsa democracia racial”. Pegando o exemplo de outras universidades públicas em Goiás, e a convite da professora Janira, ela, Eise e outros colegas iniciaram as atividades de estudos, seminários, festivais, cinedebates com o foco de sensibilizar e mobilizar a comunidade do câmpus sobre as questões como: presença negra na universidade, produção acadêmica negra, políticas institucionais de ações afirmativas, democratização da universidade, entre outros. “Foram diversas as ações para qualificar e gestar espaço de estudo, mas sobretudo queríamos construir uma universidade antirracista”, enfatiza.

Igualdade e PDI

O embrião do NEGRA, ou seja, o Coletivo de Negras e Negros do IFG surgiu em um momento em que, segundo Érika, ainda não havia institucionalizado as temáticas étnico-raciais. “No IFG não havia um debate amplo sobre as ações afirmativas e a luta antirracista. Havia muita dificuldade em debater esses temas com professores e comunidade acadêmica, não havia nenhuma política institucional de promoção da igualdade racial. Discutir a presença negra no câmpus foi fundamental para promover o debate e mobilizar a comunidade do IFG”, conta Érika.

De acordo com Janira, a inserção do tema igualdade étnico-racial no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI 2012-2016), documento que norteia as ações da gestão do IFG, foi uma conquista do coletivo, que levou o debate para o Congresso Institucional, evento em que a comunidade acadêmica se reúne para construir o PDI. “Essa inserção da temática étnico-racial se radicou na convicção coletiva - construída institucionalmente em vários ambientes - de que é benéfico ao projeto institucional que se produza igualdade concreta, substantiva em nosso projeto educacional. E que é impossível haver democracia e igualdade onde o racismo não for eliminado. Assim, compreendemos como estratégicos e centrais os núcleos de estudos afro-descendentes e indígenas, seja para qualificar o ensino, a pesquisa ou a extensão. Pois são núcleos que tocam no tema central da democracia e da igualdade. E, por certo, no tema da identidade. Temática complexa e espinhosa em um país como o Brasil”, acrescenta a professora.

Outra colaboração do núcleo, ainda no formato de coletivo, foi auxiliar na criação do que hoje é a Comissão Permanente de Políticas da Igualdade Étnico-Racial (CPPIR), cujo regulamento foi aprovado em dezembro de 2015. A docente conta que, ainda em 2012, o coletivo enviou como sugestão ao PDI o desenho do que seria uma Diretoria de Igualdade Racial no IFG e que posteriormente foi institucionalizado na qualidade da CPPIR que “tem atribuições amplas de assessoramento institucional quanto à temática e que articula os Núcleos de Ensino, Pesquisa e Extensão em Igualdade Racial, além de contribuir com qualificação de pessoal e com as comissões de acesso, no que se refere à heteroidentificação”, completa Janira.

Os dois momentos são considerados marcantes para a egressa e uma das fundadoras do coletivo, Érika Pereira Santos. “A realização de atividades da implementação da Lei 10.639 ( que estabelece a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-brasileira no currículo oficial da Rede de Ensino) e institucionalização da promoção racial no IFG, foram ações que reforçaram ainda mais a importancia da existencia de nucleos de estudos afrocentrados e de coletivos negros\os, pois as dicusões, debates e eventos resultaram em ações e políticas concretas de promoção da luta antiracista no ifg. Os processos de promoção da igualdade racial e o debate da luta anti racista precisam ser permanentes, pois ainda há um longo caminho para superarmos o racismo, começando pelas instituições, precisamos envolver toda sociedade para construirmos de fato um país democratico, com justiça social e sem racismo”, afirma.

O Núcleo NEGRA

Após uma trajetória que agrega força estudantil pela busca de valorização da identidade étnico-racial no Câmpus Goiânia, e que se abriu a demais componentes das comunidades acadêmicas de outros câmpus do IFG, o NEGRA segue desenvolvendo ações que visam estimular o debate sobre o tema dentro e fora da Instituição. Atualmente, o núcleo está com inscrições abertas para o IV ciclo de debates Identidade Racial e Racismo no Brasil: Corporeidades em debate. O projeto é coordenado pela professora Camila Leopoldina Batista dos Santos e terá sua última atividade no dia 15 de julho.

O evento é uma oportunidade a estudantes e membros da comunidade que se interessam pela temática étnico-racial e um convite para juntarem-se ao NEGRA. Para mais informações, basta entrar em contato pelo e-mail: ccll.goiania@ifg.edu.br  .

A seguir, confira alguns objetivos do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Africanidades/NEGRA:
- realizar projetos de pesquisa ,ensino e extensão na área de cobertura da educação para as relações étnico-raciais, com ênfase em história, linguagens, tecnologias, artes e cultura africana e afro-descendente;
- estabelecer projetos visando a interconexão entre o IFG e a comunidade, com foco na sociedade civil organizada por meio do movimento negro, movimento de mulheres negras e de mulheres;
- construir redes como parte do consórcio NEABs (Núcleo dos estudos afro-brasileiros e indígenas) e NEABIs (Núcleo de Estudos afro-descendentes e indígena) do Brasil e do Centro-oeste;
- congregar pesquisadores, professores, técnicos e discentes do IFG, com interesse na área de educação para as relações étnico-raciais e temas correlatos;
- realizar eventos, atividades e iniciativas de patrocínio próprio ou em parceria para difusão de conhecimento sobre as temáticas trabalhadas pelo núcleo ou de interesse coletivo na área temática do NEGRA;
- construir espaços de acolhimento de servidores e estudantes negros e negras, visando melhorar qualidade social de permanência e cumprimento de percursos educacionais (escolares e acadêmicos) completos.


Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia do IFG. 

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