Projeto No Waste viabiliza tese desenvolvida em parceria entre IFG e Universidade alemã
A tese investigou o uso do lodo da ETE Goiânia para o desenvolvimento de condicionador de solo
O projeto No Waste - uma rede de cooperação internacional que reúne pesquisadores de seis países, entre esses, o Brasil, por meio do Instituto Federal de Goiás (IFG) – prossegue com novas pesquisas. Entre os desdobramentos desse projeto, está a tese defendida, neste mês de fevereiro na Alemanha, pela egressa do Câmpus Goiânia, Tatiane Medeiros Melo, que investigou o reaproveitamento do lodo da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Goiânia para a produção de condicionadores de solo, por meio do processo de carbonização hidrotermal. Além da tese, os pesquisadores da rede almejam desenvolver o projeto No Waste II.
O No Waste, desenvolvido entre 2013 e 2017, foi um projeto financiado integralmente pela União Europeia, por meio da organização Marie Curie Actions, que estabeleceu um convênio internacional entre pesquisadores de seis países: Finlândia (Universidade de Oulu); Alemanha (Universidade de Ciências Aplicadas de Trier); França (Universidade de Poitiers); Marrocos (Universidade de Chouaib Doulkkali); China (Instituto de Física e Química de Dalian), e Brasil (IFG – Câmpus Goiânia). No Instituto, o projeto foi desenvolvido pelo coordenador e professor do Câmpus Goiânia, Sérgio Botelho, junto aos docentes da unidade, Joachim Werner Zang, Wagner Bento e Warde Antonieta da Fonseca – Zang. O objetivo do projeto foi o desenvolvimento de pesquisas para a valorização de resíduos sólidos, a partir da tecnologia de carbonização hidrotermal (Leia mais sobre o projeto No Waste).
Mesmo após a conclusão do convênio, as pesquisas proporcionadas por essa rede de cooperação internacional continuam e, neste mês de fevereiro, foi defendida a tese de título: O uso de hidrocarvão de lodo de esgoto para melhorar a retenção de nutrientes no solo e sua pedologia na região do Cerrado do Brasil – efeitos científicos e aceitação social, da egressa do extinto curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Câmpus Goiânia do IFG, Tatiane Medeiros, que vem somar aos resultados desse projeto. A tese de doutorado multidisciplinar foi orientada pelo professor da Universidade de Wuppertal, Jörg Rinklebe, e coorientada pelo professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Wilson Mozena Leandro e pelo professor da Universidade alemã de Ciências Aplicadas de Trier, Michael Bottlinger. A tese contou ainda com parcerias e apoio do professor do Câmpus Goiânia do IFG, Sérgio Botelho, e da pesquisadora do Centro de Pesquisa Helmholtz Centre for Environmental Research (UFZ), Elke Schulz.
Essa parceria entre os docentes dessas instituições só foi possível, porque uma das ações do projeto No Waste foi a realização de intercâmbio de estudantes do IFG para a União Europeia; e, como contrapartida, estudantes da Alemanha, da França e da Finlândia que vieram ao IFG para desenvolver suas pesquisas, durante a vigência do convênio. E dentre esses estudantes, a egressa Tatiane Medeiros foi uma das alunas que teve a oportunidade de desenvolver seu doutorado na Alemanha, com o apoio do projeto No Waste.
Na tese, Tatiane Medeiros utilizou o lodo, obtido na ETE de Goiânia e cedido pela Saneago, com o objetivo de reaproveitar esse resíduo gerado no tratamento de esgoto da capital, para a produção de um condicionador, que retém nutrientes no solo, contribuindo na fertilização de lavouras. Para a pesquisa, foram feitos estudos no lodo, aplicando-se a tecnologia da carbonização hidrotermal. Para tanto, foram utilizados os laboratórios de Química do Câmpus Goiânia e da universidade alemã de Wuppertal. Em ambas as instituições, a pesquisadora realizou testes utilizando o reator de carbonização hidrotermal existente no Câmpus Goiânia, que foi construído dentro do projeto No Waste, e também usou essa mesma tecnologia na universidade alemã.
Para a pesquisa, foram realizados ensaios de toxicidade do hidrocarvão utilizando minhocas e camarões como organismos testes. Além disso, foram realizados experimentos com diferentes doses de hidrocarvão e diferentes tipos de plantas, para avaliar o efeito do hidrocarvão como condicionador de solo. Diversas analises químicas e físicas do hidrocarvão também foram realizadas. Por fim, um questionário foi aplicado aos agricultores familiares em Urutaí (GO), com objetivo de identificar quais critérios eles usam para utilizar um fertilizante e qual a aceitação deles em relação ao uso do hidrocarvão como condicionador de solo.
Segundo Tatiane Medeiros, a experiência em desenvolver um doutorado, com o apoio dessa rede de cooperação de pesquisadores, foi consequência de sua trajetória acadêmica dedicada à qualificação na área ambiental e também por ter participado voluntariamente do projeto de intercâmbio Universidade Viajando, quando ainda cursava especialização na UFG.
“O projeto Universidade Viajando foi uma porta para estabelecer contatos essenciais, os quais, aliados as minhas qualificações, possibilitaram que eu conseguisse fazer o doutorado na Alemanha com bolsa. Depois que já estava fazendo doutorado, na Alemanha, eu vim para o Brasil pelo projeto No Waste para realizar alguns experimentos no câmpus da Agronomia da UFG”, explica Tatiane. Além da tese, ela já publicou três artigos sobre a pesquisa em periódicos internacionais.
No Waste II
Segundo o professor Sérgio Botelho, os pesquisadores das instituições participantes almejam conquistar novo financiamento junto à União Europeia pelo edital Marie Curie Actions, para dar continuidade às pesquisas numa nova etapa do projeto. Batizado como No Waste II, a próxima edição do projeto reunirá o IFG e as universidades na França e na Finlândia, para dar continuidade a troca de conhecimentos, a produção e disseminação de tecnologias, bem como a promoção do intercâmbio de pesquisadores de instituições de ensino parceiras do projeto.
A proposta com o No Waste II é trabalhar com pesquisas para valorização de resíduos, produção de gás de síntese e de biogás e carbonização hidrotermal. “No Brasil, nós temos uma quantidade muito grande de resíduos que não são valorizados. Vão tudo para aterros sanitários, que estão sobrecarregados, tanto o industrial quanto o sanitário. E a gente tem uma grande quantidade de resíduos que podem ser transformados e utilizados em energia, materiais, catalisadores”, ressalta o professor Sérgio Botelho.
A previsão é que essa segunda etapa do projeto No Waste seja aprovada neste ano e tenha início em 2020, com duração de quatro anos. Para tanto, o professor Sérgio Botelho prevê a participação de estudantes de doutorado das universidades parceiras e também do mestrado em Tecnologia de Processos Sustentáveis, ofertado no Câmpus Goiânia do IFG.
“Quando a gente faz essa internacionalização, assim como estamos passando a nossa expertise, nós também estamos absorvendo as expertises de outros grupos internacionais. E com isso, o ganho que a gente tem em acelerar processos de aprendizado, de conhecimento e de desenvolvimento científico é incomensurável. E também ganhamos com as trocas de amostras e de novas culturas”, ressalta o professor Sérgio Botelho, ao defender a internacionalização da pesquisa no IFG.
Coordenação de Comunicação Social do Câmpus Goiânia
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