Artigo de opinião de aluna do Câmpus Uruaçu é semifinalista da Olimpíada de Língua Portuguesa
Texto 'Antigo Lixão: de poluição visual à realidade desigual' foi escrito por Sara Ribeiro, do 3º ano de química
A aluna do 3º ano do ensino médio integrado ao curso técnico em Química do Câmpus Uruaçu, Sara Fernandes Ribeiro, 17, é semifinalista da Olimpíada de Língua Portuguesa, na categoria Artigo de Opinião. Sob orientação da professora de português Marcela Ferreira, o artigo de Sara compete com os demais textos selecionados da região Centro-Oeste. "Chegar à semifinal superou as minhas expectativas, participar da Olimpíada está sendo muito bom", declara Sara.
De 17 a 19 de novembro, Sara integrará uma reunião com os semifinalistas de sua categoria, na cidade de São Paulo. Ao longo desses três dias, a estudante deverá participar de atividades culturais e formativas oferecidas pela Olimpíada.
O texto selecionado se chama Antigo Lixão: de poluição visual à realidade desigual. "Meu texto é sobre a relação entre a desigualdade no bairro Santa Helena com o fato de lá ser o local do antigo lixão - por que aquelas famílias têm de viver ali, em vez de morar em outro local", conta a semifinalista.
Sara está otimista com a nova etapa do concurso. "Eu acho que é um texto bom, não sei se é bom o suficiente, mas tenho treinado fazer esses textos há muito tempo, então é um ponto positivo para mim", declara Sara.
A estudante também comenta como sua produção textual melhorou desde que começou a estudar no IFG. "Tenho muito a agradecer às professoras de língua portuguesa que me ajudaram nesses três anos na Instituição", revela Sara. Mas ela também lembra "dos professores de sociologia e história, que também foram importantes para melhorar a qualidade de seus textos".
Antigo Lixão: de poluição visual à realidade desigual.
O pequeno município de Uruaçu é localizado no norte goiano e é onde se encontra um dos maiores lagos artificiais de usina hidrelétrica do país, o Lago Serra da Mesa, um espetáculo de beleza que atrai muitos turistas. Mas como nem tudo são flores, de forma contraditória, a cidade abrange um antigo lixão que é questão de discussão de diversos candidatos a cada mandato que se passa, tornando-se argumento de eleição, pois, mesmo desativado, suas consequências permanecem. Enquanto promessas são jogadas aos montes ao vento, a esperança dos cidadãos de uma moradia em lugar mais adequado esvai-se juntamente com o prometido.
Primeiramente, ao que tudo indica, um país desigual reflete desigualdade não apenas em grandes metrópoles, mas também em cidades interioranas. Na minha cidade, por exemplo, há bairros desprovidos do olhar humanístico e social, como no caso do Jardim Santa Helena que, além de ter abrigado o lixão, apresenta população carente e boa parte das vias não pavimentadas. Acredito ser imprescindível destacar a seguinte questão: o lixão se localizava no bairro porque ele é desprovido ou ele é desprovido porque abrigava o lixão? Está clara a existência do lixão anterior ao do bairro, visto que decorre de um processo histórico, logo, conclui-se a segunda hipótese.
Além disso, ele é visto como fator de imenso transtorno para seus moradores porque é um lugar que gera diversos preconceitos. É comum se ouvir falas que desmoralizam os moradores daquele lugar, exemplo dessa fala é que pessoa que presta procura outro lugar para viver. Mas me parece contraditório, pois ninguém vive em um lugar que ainda é fonte de exposição humana a contaminantes presentes no solo, ar e água, além da humilhação corriqueira por pura vontade. Somos uma cidade que gasta rios de dinheiro com pecuária e festas para a população, mas onde está o dinheiro quando se trata de melhorar a qualidade de vida daqueles que não podem mudar sua realidade?
Segundo o artigo 3° da Constituição Federal Promulgada em 1988, alguns dos objetivos da República Federativa do Brasil são a erradicação da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e regionais; e a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Contudo, para os moradores do Jardim Santa Helena, esses objetivos estão longe de se realizar, pois essas ações estão presentes apenas no campo das ideias, e quando surgem boas almas que sonham em mudar a realidade dessa população de bairro, uma avalanche de empecilhos aparece no caminho: é o “coleguinha” que só sabe criticar, é o jeitinho malandro dos nossos regentes de virar a cara, é a falta de verba que escorreu pelos ralos das festas, é todo um sistema bem-sucedido que lucra nas costas da pobreza. Falta ação municipal, mas também falta empatia para com o próximo, pois muitos cidadãos continuam a jogar lixo no antigo lixão, a difamar as pessoas de lá e a fechar os olhos para a realidade.
Como um espelho, a teoria marxista da reificação é refletida na realidade quando o homem passa a ser um mero objeto e, com certeza, é perceptível que o antigo lixão é um grande influenciador desse problema. A falta de preocupação é alarmante. Foram criados muros para evitar a realidade, porque ela é dolorosa e ofensiva, mas esqueceram de se importar com quem fica do outro lado. Agora, diga-me, já não passou da hora de ter essa barreira da desigualdade quebrada?
Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Uruaçu.
Redes Sociais