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ENTREVISTA

“A democracia é feita no diálogo”

Publicado: Quarta, 30 de Junho de 2021, 09h02 | Última atualização em Terça, 27 de Julho de 2021, 09h12

Professora Oneida, reitora eleita do IFG, explica propostas e defende a participação da comunidade acadêmica para o avanço da Instituição

 

Professora Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, reitora eleita do Instituto Federal de Goiás (IFG)
Professora Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, reitora eleita do Instituto Federal de Goiás (IFG)

 

A professora Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, reitora eleita do Instituto Federal de Goiás (IFG), deve tomar posse no início de outubro, quando se encerra o segundo mandato do professor Jerônimo Rodrigues da Silva. A nomeação e posse têm de ser feitas pelo Ministério da Educação e ainda não há uma data definida.

Tranquila, depois de uma disputa acirrada entre três mulheres – as outras duas candidatas ao cargo de reitora foram as professoras Maria de Lourdes Magalhães e Fabiane Costa Oliveira –, Oneida disse que sua expectativa é de que não haja nenhum problema e a vontade da comunidade acadêmica seja respeitada pelo MEC.

Ela é pedagoga e em sua trajetória no IFG, iniciada em 2010, ocupou vários cargos de gestão, como a direção-geral do Câmpus Goiânia Oeste e a Pró-Reitoria de Ensino, onde ainda está.

Oneida é a primeira mulher eleita para ocupar o cargo máximo da Instituição. Antes dela, a professora Ivone Moreyra ocupou o cargo de diretora-geral pró-tempore do então Cefet, no início dos anos 2000, até a nomeação do professor Geraldo Silva de Almeida, que havia sido eleito, tendo a professora Ivone como vice.

Nesta entrevista ao Portal do IFG, ela fala sobre a representatividade das mulheres, avalia seu trabalho à frente da Pró-Reitoria de Ensino, explica propostas importantes do seu Plano de Trabalho e, sobretudo, defende o diálogo e a participação política dos três segmentos do IFG para o avanço da Instituição. Confira abaixo.

 

Sua eleição configura um feito histórico, porque pela primeira vez a comunidade acadêmica elegeu uma mulher para conduzir a Instituição. Isso vai, de alguma forma, incidir sobre sua gestão?

            Vários Institutos Federais já elegeram mulheres para reitoras: Mato Grosso de Sul, Amapá, Bahia, Sergipe, Paraná, Santa Catarina, Acre, Roraima. Defensora e militante dos direitos dos povos indígenas, a professora wapichana Pierlangela Nascimento da Cunha, tomou posse como diretora-geral do Câmpus Amajari do Instituto Federal de Roraima, em 13 de janeiro de 2021.

            A eleição de uma reitora é a expressão do avanço das lutas e a efetivação das conquistas das mulheres na sociedade, no IFG, nos espaços privados, das gerações passadas e desta geração. Portanto, a condução da Instituição, conforme colocado no Plano de Trabalho eleito por servidores e estudantes, será pautada pela equidade de gênero, mas não apenas.

            Como princípio fundante do documento apresentado à comunidade, está o respeito à diversidade sexual, étnica, racial, de classe, de origem geracional e de capacidades. A perspectiva é construirmos, coletivamente, uma cultura institucional que acolha e respeite a todos, todes e todas. Afinal, é esta cultura que também está posta como formação integrada omnilateral. É a formação de um “ser inteiro”, naquilo que o diferencia e o iguala a todos, dentro de uma sociedade emancipada e livre.

 

Para as mulheres, servidoras e estudantes do IFG, qual será a diferença de ter uma reitora em vez de um reitor? 

           A representatividade nas nossas propostas vem com a simbologia da primeira mulher a dirigir a Instituição, somado a isso uma pedagoga. Penso que se alarga no horizonte da gestão a questão dos assédios (moral e sexual) e das violências, com todas as potencialidades que podemos oferecer. A representatividade para nós se trata de afirmar a competência, a produtividade, a criatividade e a liderança das mulheres da Instituição.

 

Na sua opinião, a ocupação de cargos de comando por mulheres efetivamente garante a representatividade das mulheres?  (* Confira os títulos e links dos estudos ao final da entrevista)

            As questões de gênero não podem ser explicadas por uma diferenciação biológica natural entre homens e mulheres, por exemplo, elas estão baseadas em aspectos sociais, culturais, históricos e econômicos.

            A participação feminina no mercado de trabalho e na gestão institucional é marcada pelas relações de sexo historicamente constituídas e estão diretamente relacionadas à articulação entre trabalho e família, à divisão do trabalho doméstico, enfim, às relações tradicionais que veem o espaço doméstico e o trabalho reprodutivo como feminino, e o trabalho produtivo, como masculino.

            Segundo alguns estudos*, entre 2010 e 2017, verificou-se o crescimento da participação feminina na gestão. O aumento da atuação feminina em cargos de direção foi de 143%. Entretanto, se diminuiu a desigualdade de gênero na ocupação da gestão neste período, ela não foi superada. A representatividade feminina é cerca de 30% menor que a masculina em cargos considerados mais altos na hierarquia da Instituição.

            A configuração da força de trabalho no interior do IFG e da Rede Profissional e Tecnológica no Brasil repercute a presença da mulher no mercado de trabalho em geral. As mulheres ainda são predominantes em atividades historicamente compreendidas como femininas que recebem salários menores. Aquelas que conseguem se inserir em carreiras consideradas masculinas enfrentam muita dificuldade para ascender profissionalmente e recebem menor remuneração para funções semelhantes.

            A criação e a expansão dos Institutos Federais possibilitaram a ampliação de mulheres na instituição, mas esse crescimento se deu com contradições. A materialização da diversidade de gênero não garante as formas de participação democrática. Isso porque as relações estruturais que se estabeleceram ao longo da história interferem nesse processo: as relações não são alteradas “por decreto” ou imposições, as relações sociais de gênero se alteram a partir de lutas e da ação coletiva.

 

A senhora participa da atual gestão, como Pró-reitora de Ensino. O que aponta como muito positivo e que deve continuar e o que precisa sofrer mudanças imediatas? 

            A Pró-Reitoria de Ensino buscou nos últimos três anos, tempo em que estou neste espaço, consolidar a oferta de educação profissional e tecnológica e de formação de professores. Acompanhar e dar suporte à formulação de PPC de cursos, nos sentidos apontados pelo nosso PDI; fortalecer a formação dos servidores; rever e formular regulamentos institucionais que auxiliassem o trabalho nos câmpus; e propor e avaliar ações no período desta pandemia foram as principais ações. De maneira concreta, houve o fortalecimento do Integra, a realização do Matutando, a oferta de cursos de capacitação na DEAD, o Projeto EJA, o fortalecimento do NAI, a realização do I Encontro Nacional da EJA-EPT na Rede Federal, entre outros. 

            Podemos avançar de imediato nas ações de inclusão voltadas às pessoas com deficiência, no apoio à inclusão e na construção de cenários educacionais para as consequências deste período pandêmico.

 

Em seu Plano de Trabalho há referências a fortalecimento de políticas, ações e instâncias já existentes. Podemos dizer que, no geral, haverá uma continuidade na gestão do IFG?

             É preciso refletir um pouco mais sobre o termo continuidade.  Compreendo que o Plano de Trabalho eleito pela comunidade apresenta proposições de ações que requerem avanços e consolidações. Mas quais? Daquelas que foram implementadas tanto pela Reitoria quanto pelos câmpus e que têm efetivado o fortalecimento da democracia, da formação integrada e emancipatória, da inclusão social, da produção do conhecimento, da tecnologia e da inovação.

            Ao mesmo tempo, apresenta propostas de ações que buscarão dar respostas às novas necessidades e demandas do IFG, internamente e na sua relação com a sociedade. Por isso, há inúmeras propostas que combinam elaboração, criação, construção, implementação, avaliação, que demonstram o compromisso do Plano de Trabalho com a efetivação de novas ações, necessárias ao desenvolvimento do IFG e de superação daquelas que podem impedir a realização dos princípios colocados por este documento. Assim, haverá continuidade e ruptura, dependendo da relação entre as ações e os princípios apresentados.

                

A senhora propôs a criação da Jornada Semestral da Reitoria e da Reitoria Itinerante. Como cada uma vai funcionar e que benefícios podem trazer?

            A Jornada Semestral terá por finalidade acompanhar o planejamento das ações da Reitoria.  Penso que planejamento e avaliação são dois pares fundamentais na gestão, porque dão a possibilidade de acompanhar e aferir o que fazemos. Os benefícios estão na transparência e participação da comunidade do IFG nesse processo de gestão.

            A Reitoria Itinerante é uma proposta de aproximação com os câmpus: ouvir e se fazer presente nas unidades da nossa Instituição coloca a gestão em contato maior com as realidades e os desafios. Essa ação tem a possibilidade de valorização e escuta dos três segmentos da nossa Instituição.

 

A senhora também propôs a criação das diretorias de Assuntos Estudantis e de Ações Afirmativas e Inclusivas. Em que essas diretorias poderão melhorar as políticas e ações existentes?

            As políticas e ações voltadas para os estudantes e para a inclusão colocadas no IFG precisam ser fortalecidas e consolidadas. A Diretoria de Assuntos Estudantis e a de Ações Afirmativas têm como objetivo contribuir para a efetivação das políticas apresentadas nos documentos institucionais e apoiar as ações já desenvolvidas nos câmpus por diversos setores.

            Em nossos diálogos durante a campanha, muitas questões e sugestões foram trazidas sobre essas duas pautas e ficamos mais convictos sobre a importância dessas diretorias. Importante destacar que a constituição de ambas será realizada a partir do diálogo e da contribuição efetiva dos servidores e estudantes que têm desenvolvido trabalhos nestas áreas.

 

Como será o Encontro Anual de Apresentação de Resultados? Uma espécie de assembleia anual de prestação de contas, mas sem caráter deliberativo?  

            Durante o Congresso Institucional 2018, oportunidade em que o IFG construiu coletivamente o PDI 2019/2023, foi definido que a Instituição adotaria algumas ferramentas de planejamento, sendo que os principais instrumentos aprovados foram: o Plano Anual de Trabalho das unidades (PAT), o Plano de Oferta de Cursos e Vagas (POCV), o Plano Diretor de Infraestrutura e o Monitoramento dos objetivos e ações estratégicas do PDI2019/2023.

            A Elaboração do Plano Anual de Trabalho das unidades (PAT) deverá ser coordenada pelo gestor da unidade (pró-reitor ou diretor de câmpus) e deverá contar com ampla participação de toda a comunidade da unidade. Durante o Encontro Anual de Apresentação de Resultados, as unidades deverão avaliar o PAT do ano corrente e apontar as ações que deverão ser incluídas no PAT do próximo ano.

            O Plano de Oferta de Cursos e Vagas (POCV) está sendo desenvolvido pelo IFG com o objetivo principal de aprofundar o debate sobre as ofertas de cursos e vagas da Instituição, efetivamente envolvendo a comunidade acadêmica, antecipando as necessidades de força de trabalho para viabilizar a oferta dos cursos e das vagas. Durante o Encontro Anual de Apresentação de Resultados, as unidades deverão apresentar o POCV para os quatro próximos anos, inaugurando anualmente o ciclo de debates sobre o tema em cada unidade.

            Já o Plano Diretor, capitaneado pela Pró-Reitoria de Administração, deve apresentar as prioridades institucionais sobre os investimentos de infraestrutura. E, durante o Encontro Anual de Apresentação de Resultados, a Pró-Reitoria de Administração deverá apresentar as prioridades institucionais sobre os investimentos de infraestrutura e mostrar os investimentos realizados durante o ano. Dessa forma, a comunidade acadêmica poderá verificar se os investimentos realizados vão ao encontro das prioridades estabelecidas no Plano Diretor

            O monitoramento dos objetivos e ações estratégicas do PDI2019/2023 será realizado pela Assessoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (APDI), a partir de levantamentos realizados junto às unidades, que identificarão o status de desenvolvimento dos objetivos e ações estratégicas previstos.

            O resultado desse levantamento será publicizado por meio da plataforma forpdi.ifg/comunidade. Assim, toda a comunidade acadêmica poderá acompanhar o desenvolvimento das ações previstas no PDI 2019/2023 do IFG e verificar o grau de atingimento das metas institucionais previstos no Planejamento Estratégico Institucional. Em relação ao Monitoramento do PDI 2019/2023, durante o Encontro Anual de Apresentação de Resultados, caberá à APDI apresentar os resultados do IFG. Mas também quero registrar que durante o Encontro Anual de Apresentação de Resultados serão apresentadas as análises da Comissão Própria de Avaliação do IFG, bem como uma proposta de inclusão de propostas de encaminhamento nos PAT das unidades.

            É claro que todas as ações serão amplamente dialogadas com a comunidade, a partir da definição da metodologia que utilizaremos para a apresentação dos resultados.  Com certeza, será um espaço de escuta e de encaminhamentos a partir das análises dos resultados apresentados.

 

A senhora acredita que uma eleição disputada como a que ocorreu causa rupturas internas ou é possível a convivência democrática e até a união de todos em favor da Instituição? 

            Penso que essa eleição do IFG foi singular porque a comunidade apresentou uma maturidade política e um envolvimento que revela um avanço na organização e participação. A democracia é feita no diálogo. E nesse período debatemos muito a nossa Instituição. Esse processo revela o anseio que todos nós temos por fazer um IFG melhor. E esse anseio me faz acreditar que a essência da participação de muitos no período eleitoral é um dos avanços da nossa Instituição.

 

Quais serão os passos a serem dados até a posse? 

            A próxima etapa é a instrução do processo e seu encaminhamento ao Ministério da Educação para os trâmites de nomeação. A nossa expectativa é que a vontade da comunidade acadêmica seja respeitada. 

            Enquanto aguardamos a nomeação, faremos o estudo e o diálogo para a composição da equipe gestora a partir dos princípios e fundamentos que estão postos no nosso plano de trabalho.

            Por óbvio, antes da posse, nenhuma ação efetiva pode ser realizada no que se refere à Reitoria. Nesse período, iremos concluir os trabalhos previstos e planejados no âmbito da Pró- Reitoria de Ensino e consolidar o relatório da gestão.

 

 * Informações adicionais :

 

 

 

Diretoria de Comunicação Social/Reitoria.

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