Excretos e fezes de aves são usados para recuperar áreas degradadas
Vários projetos sustentáveis de pesquisa e extensão são desenvolvidos nos câmpus do IFG, envolvendo comunidade interna e externa
Alguém já imaginou que o simples ato de colocar aves empoleiradas nos chamados poleiros artificiais poderia contribuir com o meio ambiente? Uma ação simples, mas que tem importantes repercussões na recuperação de áreas desmatadas. A ação está sendo desenvolvida por meio de um projeto de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) realizado em Formosa por professores e estudantes. O objetivo é recuperar a própria área experimental da pesquisa, que fica dentro de um futuro parque da cidade, o Parque Municipal do Abreu.
A motivação para seleção dessa área, segundo o grupo que realiza a pesquisa, é o campo experimental estar em uma região de nascentes que alimentam o Rio Preto, importante afluente da bacia hidrográfica do rio São Francisco, e que corre em direção ao nordeste brasileiro, passando por um percurso de cerca de 450 quilômetros. Além disso, por se tratar também de um espaço que estava em desuso, abandonado pelos moradores locais, mas representa um importante espaço local para caminhada, passeio e convívio social da comunidade.
A pesquisa é coordenada pelos professores do IFG - Câmpus Formosa, Adriano Antonio Brito Darosci e Marcos Augusto Schliewe, envolve as estudantes Kellyane Gonçalves de Souza e Amanda Barbosa Gontijo de Andrade. Recebe ainda apoio da Superintendência Municipal de Meio Ambiente de Formosa, por meio de Ian de Moraes Thomé, e da Associação de Moradores do Abreu.
Apesar dos benefícios, a técnica do uso de poleiros artificiais para acelerar o processo de recuperação de área degradada ainda é pouco difundida, segundo estudos já publicados em artigos científicos em periódicos brasileiros. Por meio da técnica, as aves empoleiradas podem defecar ou regurgitar sementes que, por passarem pelo trato digestório do animal, podem germinar com maior facilidade e contribuir com a recuperação de espécies de plantas nativas do ambiente prejudicado, afirmam os pesquisadores.
Adriano conta que até o momento foram montados 12 poleiros, que já estão em funcionamento, construídos por meio de mastros doados pela prefeitura da cidade. A sustentabilidade pode ser vista desde a confecção dos mastros, que utilizam rejeitos de construção que seriam jogados no lixo, ou seja, há a preocupação em reutilizar o material que seria descartado; as galhadas presas aos mastros também são provenientes de ramos encontrados na mata e que não teriam destino e seriam descartadas.
“Temos essa preocupação em reutilizar material, reduzir gastos, tudo de forma bem ecológica e sustentável, em todo o projeto”, conta o professor, que destaca ainda o trabalho integrado entre a equipe do IFG, os moradores do bairro do Abreu e servidores da Superintendência. A prefeitura fez a doação dos mastros e os moradores contribuíram com a limpeza do local, por meio de um mutirão, para que os poleiros fossem montados. O professor explica que era necessário fazer essa limpeza, pois caso contrário, as aves não conseguiriam ver os poleiros pela altura que o capim estava, e o projeto não surtiria efeito.
Entenda
A área degradada é aquela que já sofreu algum distúrbio que tenha afetado negativamente a sua vegetação nativa, fauna, flora, camada fértil do solo, alterações no regime hídrico das bacias hidrográficas e principalmente grandes alterações nos ecossistemas, segundo informações do IBAMA. “Com essa técnica, a flora e a fauna são beneficiadas e contribuem para que qualidades ambientais perdidas sejam retomadas”, afirma Adriano. Além dos poleiros artificiais, também estão sendo plantadas mudas no local, chegando a 25 mudas de espécies frutíferas.
Com execução há oito meses, o projeto já implantou os poleiros no local e estes recebem a visita das aves, sendo cerca de oito espécies já observadas. Relatos de moradores do bairro próximo à região afirmam que o simples isolamento da área para criação do parque fez com que o volume de água que chega até o lago do Abreu aumentasse. Os pesquisadores esperam que, por meio da vegetação recuperada em torno da nascente, futuramente esse volume de água aumente ainda mais, revitalizando o lago que rotineiramente é visto seco.
O projeto possui importante repercussão para a população de Formosa, pois prevê “a recuperação e a preservação de uma mata em torno de uma nascente que abastece a cidade e a criação de um parque para a população do município”, informa Adriano. O intuito do grupo é também publicar os resultados da pesquisa, que está em andamento, em trabalhos e eventos científicos de abrangência nacional.
Repercussão
O projeto dos poleiros artificiais deve ser contínuo, em relação à sua utilização, segundo Adriano, pois a ideia é que a estrutura fique montada, mesmo após encerramento do PIBITI, para que as aves possam contribuir diariamente com a recuperação da área degradada e manutenção dos aspectos ambientais nesse local. A pesquisa do PIBITI já teve uma primeira etapa, em que os poleiros foram construídos e as aves passaram por um processo de adaptação, pois não é de um dia para o outro que elas chegam nos poleiros e assentam. Os poleiros, segundo o professor, simulam árvores em áreas que não possuem nenhuma. A próxima etapa do projeto é instalar os coletores de sementes, que aparecem por meio de material orgânico das aves (fezes), para que os pesquisadores examinem o que está sendo depositado. Nesse momento, afirma Adriano, será possível ter mais resultados do que está sendo investigado.
Após o encerramento do PIBITI, em agosto, a ideia é a continuação da pesquisa, que vai resultar em um Trabalho de Conclusão de Curso de uma das estudantes do grupo. Esse é o segundo TCC nessa área. O primeiro foi realizado em 2014, cuja pesquisa foi aplicada em uma outra área degradada da cidade, mas que não teve continuidade, pois após o encerramento os mastros foram roubados. Adriano acredita que nesse caso isso não ocorrerá, uma vez que a área é cercada.
A técnica dos poleiros artificiais pode ser usada em vários outros locais, pois o custo é baixo e é possível trabalhar em parceria, como é o caso do IFG – Câmpus Formosa. O projeto possui recursos apenas das bolsas do PIBITI ofertadas pela Instituição. A iniciativa é combinada sempre com o plantio de mudas. No parque do Abreu, pelo projeto do IFG, já foram plantadas espécies nativas do Cerrado, maioria delas de Ipês, pela Associação dos Moradores.
Diretoria de Comunicação Social/Reitoria/Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa.
Jornalistas: Tássia Galvão e Aurora Lessa
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