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Rompendo Barreiras

Projeto vai capacitar jovens tetraplégicos e paraplégicos por meio de tecnologias 4.0

Outros quatro Institutos Federais do país também vão realizar projetos para esse público

  • Publicado: Quarta, 25 de Novembro de 2020, 15h04
  • Última atualização em Quinta, 17 de Dezembro de 2020, 18h42
Foto ilustrativa de egresso do IFG, pertencente ao Banco de Imagens da Instituição
Foto ilustrativa de egresso do IFG, pertencente ao Banco de Imagens da Instituição

A inclusão tecnológica de pessoas com deficiência física é o objetivo de um novo projeto de ensino a ser realizado pelo Instituto Federal de Goiás (IFG). Intitulado Projeto de capacitação de jovens e adultos com deficiência na área de tecnologias 4.0, o objetivo é utilizar um laboratório itinerante que vai percorrer cinco câmpus da Instituição, para realizar um curso com 10 estudantes por semestre. Ao final de três anos, tempo de desenvolvimento do projeto, a expectativa é de que 50 alunos estejam capacitados na área de tecnologia, por meio de tecnologias assistivas. A ação faz parte do Projeto Rompendo Barreiras, cujas primeiras ações foram realizadas no Instituto Federal e Brasília e, agora, serão implantadas em outros Institutos do país.

Para a Pró-reitora de Ensino, professor Oneida Barcelos Irigon, “a execução do Projeto Rompendo Barreiras será mais uma importante ação que objetiva a inclusão social em nossa instituição.  A inclusão social é importante, pois contribui no combate à segregação social e viabiliza a democratização de diversos espaços e serviços para aqueles que não possuem acesso a eles. Quero parabenizar os servidores que elaboraram o projeto”, pontua.

A carga horária do curso será de 160 horas, com encontros semanais de quatro horas por dia, durante quatro meses. O intuito é capacitar pessoas paraplégicas ou tetraplégicas, mas que tenham o cognitivo preservado, ou seja, que não possuam comprometimento intelectual. A ideia é que os alunos possam se qualificar para atuar, após o curso, no setor produtivo. O público-alvo serão jovens e adultos, mas as condições e critérios de participação ainda serão definidos.

O projeto do IFG foi selecionado para receber recursos do Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), da ordem de R$ 200 mil, e mais o aporte de R$ 40,6 mil com recursos próprios da Instituição. Os valores serão aplicados na aquisição de equipamentos, suprimentos, materiais e pagamento de bolsas de monitoria e estágio. O projeto será desenvolvido a cada semestre em um câmpus diferente: Goiânia, Luziânia, Formosa, Senador Canedo e Itumbiara.

Um dos objetivos do projeto é produzir equipamentos eletrônicos que forneçam acessibilidade aos alunos para desenvolvimento de projetos de tecnologia, especificamente o Mouse LipSync e Robô Manipulador I-Robot. O professor do Câmpus Goiânia e um dos autores do projeto, Carlos Roberto da Silveira Junior, explica que o esse mouse é um “projeto aberto de um mouse de boca, que permite pessoas com paraplegia e tetraplegia a utilizar movimentos da boca e língua para realizar as mesmas ações de um mouse de mesa. Para isso, o projeto tem como base um Arduino e utiliza peças produzidas em uma impressora 3D. O Robô Manipulador  I-Robot é um projeto aberto de um robô manipulador de seis graus de liberdade, de baixo custo, que será utilizado pelos alunos para auxiliar na manipulação de componentes e materiais, fornecendo maior acessibilidade”, afirma.

Além disso, o intuito será ensinar conceitos de programação de computadores por meio de uma linguagem visual, ensinar os estudantes a desenvolverem projetos de Automação e Internet das Coisas, que interajam com o ambiente a partir de sensores e atuadores; ensinar a projetar componentes mecânicos em Impressora 3D para desenvolvimento de projetos; ensinar os princípios de Inteligência Artificial com foco em aplicações voltadas ao público-alvo; ensinar a integração de técnicas para o desenvolvimento de projetos relacionados à automação e programação; propiciar oportunidades de inserção do aluno no mundo do trabalho de tecnologia e fornecer uma solução de automação inteligente, desenvolvida pelo próprio aluno, para ser utilizada para aumentar a acessibilidade no local onde mora.

 

Inclusão social

O projeto, cuja elaboração e acompanhamento, contou com a participação da Pró-reitoria de Ensino (Proen) do IFG e uma equipe de professores e pesquisadores, faz parte do incentivo institucional ao desenvolvimento de soluções de acessibilidade. Outros projetos de pesquisa estão sendo desenvolvidos em âmbito do IFG nessa área, como o SmartCap e Smartshoes, que auxiliam no desvio de obstáculos, provendo acessibilidade a deficientes visuais por meio da Internet das Coisas, desenvolvido por alunas do Câmpus Inhumas; a luva transceptora, desenvolvida por pesquisadores do IFG e que torna possível a comunicação entre surdos e ouvintes a partir de uma luva e equipamentos que interpretam os movimentos da Língua Brasileiras de Sinais (Libras), dentre outros. Isso mostra a atuação institucional em projetos dessa natureza, com experiência em tecnologias, impressão 3D, projetos de robótica, de automação e desenvolvimento de circuitos eletrônicos.

Oneida reitera, ainda, a importância do projeto, pois, além de formar e incluir estudantes com paraplegia e/ou tetraplegia com cognitivo preservado no mundo do trabalho, também vai atuar na formação continuada de professores para lidarem com os alunos com necessidades educacionais específicas.  “Vale ressaltar que este projeto contribuirá para que os estudantes tenham acesso a uma formação de qualidade, além de propiciar a eles a elevação de sua autoestima, acesso ao mundo do trabalho, e, com certeza, maior autonomia tanto em sua vida pessoal quanto na profissional”, comenta.

Além da atuação no ensino e na pesquisa, o IFG também possui um trabalho junto às pessoas com necessidades específicas, por meio dos Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napnes) e acompanhamento pelo Núcleo de Ações Inclusivas (NAI). Segundo Oneida, a constituição dos Napnes, nos câmpus, e do NAI, na Pró-Reitoria de Ensino, “foi uma ação importante para iniciarmos o debate sobre a inclusão social e o atendimento aos alunos com necessidades educacionais específicas. Iniciaremos agora, o processo de elaboração das políticas de inclusão, pois elas poderão contribuir ainda mais para o atendimento pleno das necessidades educacionais dos alunos da nossa instituição”, finaliza.

Para a coordenadora pedagógica da Proen, professora Ana Beatriz Machado de Freitas, o projeto é importante pois vai atuar com perfis humanos que têm muita dificuldade de inserção no mundo do trabalho. “Essas pessoas, às vezes, chegam na vida adulta sem qualquer qualificação, então é um projeto de inclusão educacional, laboral e social, no sentido de que prevê também a relação com pessoas que não possuem deficiência”, ressalta a professora. Ela destaca ainda que o projeto abre portas para outras pesquisas na área de tecnologias assistivas possam ser realizadas. “Podemos abrir campos de pesquisa para produção de equipamentos, softwares, tecnologias voltadas para a acessibilidade. Isso pode facilitar tanto para a comunidade interna, para os estudantes, como a comunidade externa e para os próprios professores”, finaliza.

Metodologia

Para executar o projeto, estão previstas duas etapas. A primeira delas deve ser realizada no primeiro semestre de 2021, com a aquisição e montagem de equipamentos a serem utilizados no curso. De acordo com o projeto,  serão produzidos os equipamentos como mouse de boca e manipuladores robóticos a partir de projetos abertos desenvolvidos por pesquisadores e instituições que estimulem soluções para acessibilidade.

A segunda fase é a realização propriamente dita do curso, com início da primeira turma no segundo semestre de 2021. Entre os tópicos de ensino do curso estão: Introdução à programação de computadores com Scratch (ferramenta online de programação em blocos utilizada em ambiente educacional, sendo possível trabalhar cooperativamente, utilizar diversas mídias, desenvolver animações, jogos, quadrinhos, criando movimentos, inserindo sons, iniciar a execução do programa etc.), Introdução aos Microcontroladores, Introdução à Inteligência Artificial, Introdução à Impressão 3D e Desenvolvimento de Projeto. 

Na última fase do curso, os estudantes vão desenvolver um projeto, com a criação de um circuito de automação que interaja com o meio, com o uso de sensores e atuadores. Outras ações do projeto estão previstas, como contato com empresas para apresentação e inserção dos profissionais no mercado de trabalho relacionado à tecnologia. Segundo o professor Carlos Roberto, “O Instituto Federal de Goiás tem um papel social importante no ensino e práticas de economia 4.0, diversos projetos de ensino e extensão buscam incluir alunos de escolas públicas nesse novo mundo. Mas é preciso ir além, e esse projeto tem grande relevância por conseguirmos alcançar um público-alvo que muitas vezes não têm oportunidades de inclusão tecnológica”, afirma. Carlos pontua, ainda, que o “diferencial do projeto é que ao final do curso cada aluno poderá implantar em sua própria residência uma tecnologia inteligente de assistência, com o intuito de aumentar a acessibilidade. Essa tecnologia será baseada no Mini Google Home e circuitos baseados em microcontroladores com sensores e atuadores residenciais”, finaliza.

Projeto anterior

Um primeiro projeto com finalidades semelhantes foi desenvolvido no Instituto Federal de Brasília entre 2018 e 2019. O Rompendo Barreiras: Formação técnica e profissional para jovens tetraplégicos e paraplégicos com cognitivo preservado, utilizando tecnologia assistiva e robótica com possibilidades de inclusão no setor produtivo foi criado pela professora Ana Beatriz Nunes Pereira Goldstein e apresentou um modelo de formação técnica e profissional para jovens tetraplégicos e paraplégicos com cognitivo preservado.

A partir deste projeto, por meio de reuniões e tratativas junto à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), do Ministério da Educação (MEC), e ao Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), outros cinco IFs do Brasil foram selecionados para realizar os projetos próprios em cada instituição. São eles: IFG - Reitoria, IF do Sul de Minas - Câmpus Inconfidentes, Poços de Caldas, Machado e Muzambinho, IF do Ceará - Câmpus Acaraú e Sobral, IF do Amazonas – Reitoria e IF do Amapá – Reitoria.

 

Diretoria de Comunicação Social/Reitoria

 

 

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